a Sobre o tempo que passa: Limões insinuantes e Europa amaralizada pela hierarquia das potências

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

25.2.09

Limões insinuantes e Europa amaralizada pela hierarquia das potências


Quarta-feira de cinzas, governo de Sócrates, pintura de Courbet em Braga, com conteúdo pornográfico, autocolantes que recobriam o "Magalhães" quase proibidos em Torres Vedras, Director-Geral de Educação do Norte, a do Charrua, dando muitas no cravo e outras tantas na ferradura... apenas aguardo artigo radical da Fernanda Câncio pondo na ordem esta desordem, de polícias e magistrados movidos por denunciações, para que o Rui Pereira, a Maria de Lurdes Rodrigues e o Alberto Costa continuem a assobiar o choque tecnológico das novíssimas fronteiras. Porque assim, o Freeport deixa as parangonas e ninguém parece disposto a pensar e discutir a destruição da Europa que alguns membros europeus do G20 levaram a cabo, preparando previamente as decisões que irão ser propostas às cimeiras da União Europeia e do mesmo G20. Porreiro, pá!

É por isso que apoio a atitude que o ministro dos negócios estrangeiros de Portugal, Luís Amado, ontem esboçou timidamente. Ai da Europa, se persistir esta lógica de Congresso de Viena, com as potências a comandarem um pelotão de médios e pequenos Estados, porque o realismo impõe que a crise internacional seja apenas superada pelos grande, os tais vinte que abocanharam mais de 90% do produto planetário! Somos todos iguais, as duas centenas de Estados membros da ONU, mas há alguns mais iguais do que outros, os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Somos todos iguais nessa "animal farm" chamada União Europeia, mas há meia dúzia que vão às reuniões preparatórias do G20. Os outros,  que, sem ser por acaso, são a maioria, apenas são figuras secundárias nesta quinta dos animais com poder, onde os Estados se medem pela força da economia.

Os médios e pequenos Estados apenas servem para o teatro das cimeiras e para os espectáculos do Tratado do Mar da Palha, com muitos porreiros e muitos pás, de feitores e mestres de cerimónias. E, depois, os anti-europeístas somos nós, os que invocam a ideia de Europa dos pais-fundadores, os que continuam a estar contra este neofeudalismo de uma espécie de anarquia ordenada pelas potências directoras.

Vale-nos que Sócrates vai convidar Diogo, o Freitas, amaralíssimo, para encabeçar a lista dos socialistas e a seccção portuguesa do Partido Socialista Europeu. Consta que o mesmo corpo, de costas espatifadas por um problema de espinha, já foi presidente da União Europeia da Democracia-Cristã e, ainda há anos, invocava o privilégio de ser o único português que era sócio individual do Partido Popular Europeu, o tal rival do PSE, agora integrado pelo PSD e pelo CDS de Portas. Tenho a honra de nunca militar em qualquer partido que ele dirigiu. Num deles, entrei quando ele saiu e tratei logo de sair quando ele voltou para resolver um problema de dívidas de uma campanha presidencial.

Para portugueses atentos, este candidato a Talleyrand, é, aliás, igual a outros antecessores dele no Largo do Caldas, especialistas na filosofia da traição, como um deles foi qualificado categorialmente por Marcello Caetano. O tal que continua a ser considerado paradigma, por causa da constante conspiração de avós e netos, de que se vangloria. A hipótese que agora se coloca não desprestigia o PS, que já elevou o primeiro a ministro dos estrangeiros. Apenas liquida a direita a que chegámos, comprovando a ligeireza com que o PSE e o PPE tratam as secções nacionais portuguesas de tais multinacionais partidárias. Não passamos de terra de porreiros e pás, onde, nas elites, anundam candidatos a capatazes e feitores de um qualquer dono de poder alienígena.

Por isso, continuo a sorrir com a demagogia de soberanismo keynesiano que inunda o nosso discurso oficial face à crise. Até vi um ministro denunciar os alemães por causa da Qimonda, que cá o Estado do Zé estava disposto a abrir os cordões à bolsa do orçamento, como se o Estado do Marquês de Pombal, de Fontes Pereira de Melo, de Salazar ou de Cavaco Silva ainda existisse. Não passamos de potência secundária, com uma classe política que não sabe quem foi Febo Moniz e chama doidinhos a D. António Prior do Crato e ao Manuelinho. Há muitos candidatos a "ministros do reino por vontade estranha". Eu continuo a ler Bandarra.

Por isso, há sempre uma directora-regional do norte, um denunciante da pornografia do Carnaval, ou uma polícia que apreende Courbet, repetindo as anedotas que contávamos sobre o autoritarismo salazarento. Como há outros tiques do micro-autoritarismo sub-estatal, enquanto os tais ministros lavam as mãos como Pilatos. Aliás, os crimes de corrupção começam a poder entrar na contabilidade dos corruptores, porque, conforme já foi provado na barra dos tribunais, se alguém tentar comprar alguém com duzentos mil pode ser apenas condenado a multa de uns meros cinco mil...

PS: Acabei de enviar uma denúncia à polícia sobre a exposição desta imagem da capa de um livrinho que continha um qualquer canto nono. Espero que o Ministério da Agricultura actue de imediato contra a insinuação de um tal Luís Vaz!