a Sobre o tempo que passa: Rememorando fotografias da terra inteira, Balfour, Hiroshima e cabos transatlânticos de telégrafo

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

7.8.06

Rememorando fotografias da terra inteira, Balfour, Hiroshima e cabos transatlânticos de telégrafo

Sete de Agosto. Recordo esta data do ano de 1959, quando, pela primeira vez na história, o homem conseguiu fotografar, a partir do espaço, o próprio planeta, graças a um satélite norte-americano. Assim se consguia dar sentido gráfico ao abraço armilar, cumprindo o plano de Fernão Magalhães. Sete de Agosto de 2006, quando aninda nos enredamos nas patetices da Balfour Declaration de 2 de Novembro de 1917, que prometia aos sionistas a instalação, na Palestina, de um lar para esse povo sem pátria que eram os judeus. E apetece rememoriar o que, ontem, dia seis de Agosto não consegui: a bomba atómica sobre Hiroshima. A tal procura da arma absoluta devastando os inimigos. Tal como o que, anteontem, dia cinco de Agosto, também não anotei: o lançamento, em 1858, do primeiro cabo de telégrafo transatlântico. Para não falar no ano de 1962, quando foi encontrada morta, Marilyn Monroe.

E lá vou continuando a pensar em paz e guerra mesmo à beirinha das cálidas ondas da preguiça de férias, onde vamos dando graças ao Criador por aqui não caírem as bombas do ódio, dado que as nossas explosões políticas e sociais estão sob rigoroso controlo de umas canalizações representativas que ainda funcionam. Porque os cálculos dos ganhos e perdas nos conseguem situar no pelotão dos que vão vivendo menos pior, no âmbito desses remediados vencedores da globalização. Felizmente que não fazemos parte da multidão dos injustiçados.

Neste recanto da Europa, entre muito linguajar turístico de loiros bosches e deslavados bifes, reparo que a velha aldeia dos pescadores foi submersa por imobiliárias e empreendimentos. Confesso que, assim, não apetece a tradicional metafísica do reflexionismo, dado que, infelizmente não trouxe leitura de fim-de-semana. Apenas apetece retomar a senda de escrever-me, encontrar em qualquer das curvas da escritura um sem porquê que me permita voltar ao necessário lirismo. Porque, se exercitar a palavra, todos os dias, surgirão palavras que vais guardando sem notares. Já tomei o meu banho atlântico, já sequei o corpo, olhando o sol de frente, já cumpri o plano de me me escrever.