O estado a que chegámos a nível universitário
Estas duas últimas ocorrências de pretenso assassinato de carácter, que aqui relato, apesar de não terem grande importância (só ontem tive seis horas de aulas), revelam a doença larvar das nossas instituições dependentes do leme do Estado, quando os pretensos reformadores ameaçam alteração de rota. Por isso, reafirmo que não tenho medo e que continuo a apoiar a candidatura a reitor do Professor Espinho Romão.
Aqui vos deixo a declaração emitida:
A profunda reestruturação por que passa o ensino superior na Europa e, em particular, no nosso País, está a colocar em causa velhos métodos e práticas e, consequentemente, a obrigar as instituições universitárias a redefinir objectivos e linhas de desenvolvimento, tudo isto num contexto académico e político de forte turbulência.
Neste quadro, a eficácia das nossas respostas só poderá assentar na mobilização estruturada das nossas forças, sacudindo interesses particulares e visões de “sacristia”, em favor de uma redefinição da visão e da missão de cada instituição e da sua articulação nos espaços sociais e geográficos em que se insere e do consequente desenho estratégico, capaz de encontrar soluções integradas na cultura organizacional que harmonizem objectivos, meios e públicos relacionais.
No caso concreto do ISCSP, escola que, convém recordar, tem, como contrapartida das vantagens da sua integração na UTL, a limitação na sua autonomia para a definição de estratégias próprias, a análise rigorosa das ameaças e das oportunidades que o novo paradigma do ensino superior proporciona e o recenseamento lúcido dos nossos pontos fortes e fracos só apontam num único sentido: a imperiosa necessidade de encontrar soluções amplamente participadas, capazes de mobilizar órgãos académicos e de gestão, docentes, funcionários e alunos.
No actual contexto, em que o próprio modelo de gestão irá ser profundamente alterado a curto prazo, a pior de todas as soluções corresponde à afirmação de grupos contra grupos, cuja definição e justificação reside quase exclusivamente na sua própria alteridade. Não é tolerável, em termos institucionais, assistirmos impassíveis a uma “balcanização” (ou, para ser mais actual, a uma “somalização”) do espaço comum de convivência do ISCSP, ou deixar que ele se torne num palco de “senhores da guerra” que se alimentam do medo e da cobardia, para os quais contribuem eventuais sentimentos de orfandade ou de submissão a diversas heranças autoritárias.
Na encruzilhada em que escola e a própria universidade se encontram, é imperioso que os docentes do ISCSP assumam uma atitude de “salvação pública” e de integração plena nas exigências que o Estado e a comunidade nos impõem.
Os subscritores deste documento, não querendo contribuir com mais frases de sonora ineficácia para o ambiente poluído de contra-informações, de insinuações vazias de sentido, de rivalidades pessoais, de feudalizações e de endogamias, que é o que actualmente vigora no ISCSP, e rejeitando qualquer tipo de plebiscitação de personalizações do poder ou de apetite desenfreado por um sistema de gestão que a breve trecho será extinto, ensaiaram, desde há longos meses, propiciar soluções de não exclusão que, exprimindo a institucionalização democrática dos conflitos, pudessem recriar um projecto de escola, assente na tradição, voltada para a vida e apostando no futuro, num futuro amplamente participado.
Tudo foi tentado e quase tudo foi reduzido a escrito, com lealdade e confiança, num processo que mobilizou a participação de muitas vontades da escola (que os subscritores deste documento representaram), sem outra motivação que não fosse a de obter um forte empenho colectivo que as circunstâncias actuais impõem para salvaguarda do ISCSP face às ameaças reais que pesam sobre o seu futuro enquanto instituição autónoma e necessitada, para que possa dar continuidade às suas raízes fundacionais, de um espaço de afirmação alargado e próspero.
A unidade pretendida por essas vontades, a quem não move qualquer ambição pessoal, não impediu a deturpação e a rejeição das suas propostas sérias e transparentes por quem deveria ajudar a contribuir para adequar a escola às reformas globais que se aproximam e que, para sobreviver, temos que integrar, a fim de podermos lutar para continuarmos a viver.
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