Eu, liberal e tradicionalista, me confesso...
Sujeito que estou à ditadura dos perguntadores, sempre disse que, entre o sim e o não, opto pelo sim à tal questão referendária da IVG. Os do não podem dizer que afinal sou um infra-humano nim e, por isso, até agradeço a referência de um deles, bem talentoso aliás, para quem, citando-me como um perigo público, a posição mais perigosa dos apoiantes da liberalização do aborto é o NIM; porque é a mais inteligente. O NIM purga as consciências, exorcizar os demónios (à boa maneira Nietzscheana) para poder avançar liberto a má consciência “infra-humana”, da noção de “mal” que inibe o “homem inferior” acossado pelo “cristianismo maléfico”, impedido assim da sua ascensão a “um plano o superior de existência”.
Porque vivo num país livre, feito por esquerdas e direitas que não padeciam do neodogmatismo dito antidogmático, posso confirmar que, de acordo com a teologia católica oficial, tanto não sou um fiel do Vaticano, como também não sou um gnóstico ou um agnóstico, da frente antiteísta e do eixo do mal. Apenas reclamo o direito de expressar a liberdade do meu pensamento nos domínios da heresia, podendo exprimir as angústias de navegar naquela zona de fronteira do transcendente situado, como acontece a muitos que tentam as suas confissões de homem religioso.
Por outras palavras, de Nietzsche, não tenho nada, dado que muito agradeço o complexo herdado deste diálogo da liberdade ocidental, entre o humanismo laico e o humanismo cristão, sem o qual seremos decepados por aqueles fundamentalismos que costumam transformar-se em caricaturas e que se arregimentam em carneirada nos dois lados da mesma aventura do espírito.
Ah! Continuo a não ser "de esquerda", nem socialista, nem republicano do 5 de Outubro, ou do 28 de Maio. Não passo de um velho liberal, bem azul e branco, mesmo que esteja contra certos bobos da Corte que não sabem conjugar a antiga, mas não antiquada, fibra do senão, não. Tão liberal quanto a maioria dos governos e parlamentos europeus, incluindo todos os reinos vigentes, que permitiram os resultados legislativos que o próximo "sim" poderá promover em Portugal.
A minha pluralidade de pertenças tem uma irmandade profunda com um Edmund Burke ou um Winston Churchill, o tal humanismo activista de um conservador tradicionalista e liberdadeiro que, sendo da direita universal e europeia, começa não poder conviver em harmonia com os letreiros da direita lusitana, só porque provoca urticária argumentativa em todos os que só prezam a liberdade de consciência quando com eles concordamos. E assim se confirma como continuamos a ter uma direita que convém à esquerda. Como se toda a esquerda fosse pelo sim e toda a direita, pelo não, como parece ser o desígnio de certos refundadores dos endireitas e de alguns continuadores do bonzismo canhoto.
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