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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

26.11.07

Patos bravos, soares, cavalheiros da indústria e "rankings"


Há dois dias que estou de cama, doente, encruzilhado, virado, sem forças para ganhar força, os músculos doridos, as horas perdidas, neste etc. de quem está com gripe, embora seja obrigado a deslocar-me à universidade, para uma entrevista com um agente inspector, não sei bem sobre quê, dado que apenas tenho conhecimento da epígrafe de um ofício, remetido pelo burocrata-mor da minha pequena unidade orgânica.


Munido de umas centenas de páginas referentes ao que eu penso ser o objecto da inspecção, lá sairei do calor do lar, depois de almoço. Por agora, apenas a sensação de, pela primeira vez, usar o portátil na cama, mas com suficiente lucidez para me aperceber da grande confusão que marca os patrões capitalistas destes restos de Portugal, com a CIP dividida entre os patos bravos e os cavalheiros da indústria e com a fusão do BCP e do BPI a ser chão que deu uvas, com mais uma vitória dos interesses de Berardo.


Passando para a politiqueirice, registam-se mais umas ponderadas afirmações de Mário Soares sobre o PS, onde, ao considerar que Sócrates é bom porque é um "anti-Guterres", transforma todos os elogios ao actual Primeiro-Ministro em atestados de incompetência ao antigo Primeiro-Ministro pós-cavaquista do PS. Apesar de tudo, apenas aconselha que o PS "vire" um "bocadinho mais à esquerda". Por outras palavras, o patriarca continua o seu ofício de ausente-presente, nessa viagem de um "eu" que já perdeu as respectivas "circunstâncias", sempre com discretas mensagens do além, para os insignes ficantes deste aquém...


Vale-nos que há um grupo de patrões, os da CCP, que se insinuam junto da CGTP, para uma acção mista de greve e de "lock out", enquanto o inspector máximo das polícias as arrasa e o PGR ameaça o governo. Enquanto isto, a Universidade de Coimbra congratula-se de ter ficado no primeiro lugar entre as congéneres lusitanas, no "ranking" do jornal "The Times", enquanto outros salientam que, contexto da OCDE, em termos de instrução, estamos em 29º lugar, abaixo da Turquia. Apenas acrescento que, por esta e por outras, é que Gilberto Madail se ufana: no "ranking" da UEFA continuamos nos dez primeiros, enquanto no das universidades a primeira é apenas a 319ª, seguida pela UNL em 341º.


Fiquei esclarecido quanto ao provincianismo que procura reduzir uma avaliação universitária a simples "slogan". Mas fui ver os tais "rankings". Reparei que a esmagadora maioria são de universidades do mundo anglo-saxónico. Por exemplo, nas cinquenta primeiras das Ciências Sociais, apenas aparecem duas chinesas (23º e 44º), uma japonesa (24º), a Católica de Lovaina (42º), a de Copenhaga (45º) e a de Viena (46º). Em artes e letras, Pequim (18º), Singapura (21º), Tóquio (24º), Sorbonne (29º), Paris-ENS (33º), Berlim (38º), Jerusalém (39º), Lovaina (43º), Fudem-China (46º) e Bolonha (47º). Em Tecnologia, Tóquio (9º), Zurique (13º), Tshingua (16º), Quioto (29º), Bombaim (33º), Politécnica francesa (34º), Delhi (37º), Lausanne (47º), Coreia (48º).


Por outras palavras, seria melhor reconhecermos a falta de estratégia do Portugal dos Pequeninos com a mania das grandezas. O que tem como consequência transformarmos as potencialidades em vulnerabilidades. Por outras palavras, equipas da segunda e terceira divisão não podem copiar o modelo de jogo das primeiras classificadas da liga de primeira, pedindo aos treinadores de bancada, nomeadamente aos burocratas improdutivos do eduquês, que lhes traduzam em calão as tácticas da destruição não criadora.


É por isso que passei estes dias a verificar como o que tem sido alertado por muitos continua no veto de gaveta. Fiquei apenas satisfeito quando visitei o blogue de Raquel Patrício. Afinal, sempre há jovens universitários que pensam sobre as circunstâncias, com qualidade e esperança. Os outros transformam a reforma universitária em joguinhos politiqueiros ...