Acompanhei, com alguma solidariedade peninsular, as votações da Galiza e do País Basco, essas nações sem Estado da nossa irmandade ibérica e sem as quais não é possível o sonhado iberismo federativo que passe por Guernica, Santiago, Barcelona e Lisboa em pé de igualdade, conforme o sonho de Antero que continuo a subscrever, mas sem dinastias aqui impostas pela balança da Europa. Apenas reparei que, a Norte do Minho, entraram em contraciclo face às decisões do Congresso de Espinho. Viraram todos para a direita liberal e para o nacionalismo, atirando um adequado sapato ao Zapatero.
Sinto-me particularmente irmão dos nacionalistas bascos democráticos, de quem sou particularmente amigo, especialmente quando era militante e dirigente partidário, nos tempos de Lucas Pires, e andava em descoberta por esses povos da Europa parecidos connosco, como também eram os nacionalistas da direita democrática irlandesa. Mas nesta Primavera, reforcei as alianças afectivas, quando participei, nos Açores, na comunhão das autonomias europeias, de cujo grupo tenho a honra de fazer parte. Julgo que, se nos libertarmos da visão paroquial da Europa, onde caiu o PS, mesmo quando se veste com a pronúncia do Norte do ministro Teixeira, bem poderíamos usar as boas autonomias portuguesas dos Açores e da Madeira, para não ficarmos do lado errado da história.
O pior que podemos copiar nalguns galegos está em fraguizarmos o nosso discurso regionalista, como poderá acontecer com o PS, o principal responsável pelos nossos últimos resultados pelo falhanço do referendo sobre a regionalização, lado a lado com Alberto João Jardim que, não nos esqueçamos, mandou votar contra a mesma regionalização. Como se o objectivo fosse meramente partidocrático. Por mim, até votaria no PCP se ele fosse autenticamente pela destruição do centraleirismo, deste Estado a que chegámos, herdado do Marquês de Pombal, de Fontes Pereira de Melo, de Afonso Costa, de Salazar, de Mário Soares e de Cavaco Silva. Sim, continuo da direita, liberal, regionalista e até federalista, por dentro do Estado e ao lado e acima do Estado. E, como europeísta pouco bruxelense, não posso deixar de defender um nível de federalismo a nível da penínsual, não através de um acordo bilateral entre a República Portuguesa de Lisboa e o Estado espanhol de Madrid, mas antes pelo refazer das alianças pré-estadualistas desta nossa casa comum.
É por esta e outras crenças que não tenho lugar na política militante portuguesa, porque não há lugar onde possa defender as minhas concepções do mundo e da vida. Onde para a direita a que chegámos há uns pretensos sábios que a atiram para a defesa de arcaísmos, do estadualismo e da sacristia, escorregando nas cascas de banana que a esquerda situacionista lhe lança, desde o centralismo capitaleiro ao conservadorismo imobilista. Como se não houvesse um capitalismo assente num liberalismo ético e uma forma de reinvenção do político que volte ao localismo, ao regionalismo e ao federalismo, pelo sonho de uma república maior que a dos Estados fixados pelo soberanismo e pelo absolutismo. Esquecem-se, pelo menos, que Portugal só foi grande quando recuperou o sonho do Infante D. Pedro e dos juristas da Restauração, recuperados pelo vintismo e pelo antinapoleónico, contra esse usurpador que Jaime Gama invocou no Congresso de Espinho, sem ser por acaso, esquecido de quem nos quis mandar a todos para o Maneta, mas ainda aquecido pela recente e novamamente azarada viagem à Guiné-Bissau, onde, ontem, voltaram aos magnicídios, onde se foi o chefe de estado-maior e eventualmente outro mais alto, conforme recente telegrama da agência francesa, mas ainda não confirmado...
Coitados! Nem sequer são capazes de compreender os impulsos profundos do socialismo oitocentista, recuperados por Vitorino Magalhães Godinho, esse que era do socialismo democrático antes de Mário Soares, o qual, logo no segundo pós-guerra, ainda andava longe das sementes de União Socialista e de Partido Trabalhista, preferindo o estalinismo do PCP cunhalista, conforme gostava de recordar o velho Raul Rego, quando Mário caía na esparrela de voltar aos fulgores demagógicos dos vinte anos e era obrigado a reler as palavras que lhe dirigiu Norton de Matos, por causa da campanha eleitoral presidencial ...
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