Os chamados dois principais partidos não querem debate com os pequeninos e parecem que também têm pouca apetência para os confrontos directos. Preferem usar os vários heterónimos que cada um tem, a partir dos respectivos monólogos de palanque. Um varia entre o "gajo porreiro" e o "animal feroz", a outra entre a directora-geral da contabilidade pública e a ministra da educação que teve como secretário de Estado o actual reitor da universidade de verão do partido. E assim temos uma direita encravada entre os devaneios de Marcelo Rebelo de Sousa e as especulações serôdias de um ou outro fantasma, pelo que só pode continuar a ser a direita mais estúpida do mundo, com a consequente tragicomédia, onde Jardim pede a expulsão de Moita Flores, porque este faz parte de uma listas publicadas de uma ordem onde, no Oriente Eterno, estão pelo menos dois antigos secretários-gerais do mesmo PPD-PSD, para não falarmos em cerca de metade das direcções que não eram influenciadas pelos actuais inquisidores de corredor e de neopidismo de revista para as classes A e B.
Já a esquerda dos socialistas, apesar do vigente presidencialismo de Primeiro Ministro que encavacou o PS, ainda não está suficientemente eucaliptizada. Claro que já não pode invocar que tem como programa uma mistura de Marx, Antero de Quental e António Sérgio, com as bochechas de Soares, os catequistas do Padre Milícias e a praça da canção de Alegre, reciclando, para o pluralismo, os sucessivos blocos de esquerda "radical chic". Se Guterres ainda os tentou nomear directores-gerais do sistema, ao estilo da recente sondagem feita a Joana A. Dias, eis que Sócrates se ficou pelo modelo "jugular" da sua "new left" de estimação. Mantendo os elogios activistas de Ricardo do BES e de Roque do Banif, bem como as alianças com os construtores de obras públicas à Soares Franco e Jorge Coelho, tudo cheira muito a clientelismo, a consultadoria e a "outsourcing".
Com o PSD e o PS, mantém-se aquele tradicional "gentleman's agreement" entre o estadão e as forças vivas, com o aplauso de certa casta bancoburocrática, que sempre gostou da caldeirada feita de socialismo de Estado, a que chamam "cainesianismo", com o liberalismo a retalho, a que chamam "pragmatismo", o de meter a ideologia na gaveta. Daí que seja de estranhar a zanga entre os dois irmãos inimigos, quando o PS acusa o PSD de reaccionário e salazarento e vozes do PSD invocam os fantasmas dos pedreiros livres, à José Agostinho de Macedo. Nem o ensaio de causas fracturantes já leva papalvos, muito menos essa mistura que o PS faz entre um candidato do LGBT e outra dos democratas cristão, porque nem esta se parece com a Engenheira Pintalsigo nem o primeiro parece ter o perfil de Zita Seabra, a mudar de opinião sobre a IVG.
É natural que muita gente de boa vontade, da não-esquerda, comece a salientar a coerência obreirista de Jerónimo e de Carvalho da Silva e a enredar-se pelo chique catedrático de Louçã, temendo ex-ministros que nos tragam sobreiros e submarinos. Aliás, com a direita balizada pelos tacticismos maoístas de benzidos conselheiros presidenciais e o PSD, enredado nos modelos disciplinares da velha doença infantil do comunismo, é natural que resulte, deste paralelograma de forças, um discurso de comício de Chão da Lagoa que, certamente, será assumido pela limpeza de sangue e de costumes de Pedro Santana Lopes.
Também me parece que o velho partido liberdadeiro, o PS, não tem a coragem de dizer que ainda gosta de política, contra este fantasma da governação como mercearia de despensa. Por mim, pobre homem de direita, liberal à antiga, radical do centro e tradicionalista, resta-me não saber como, através do voto, rejeitar este situacionismo. Por isso, queria debates, entre os dois grandes e entre todos os grandes e pequenos.
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