a Sobre o tempo que passa: Entre a bigorna de Cavaco e o martelo de Alegre

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

16.1.10

Entre a bigorna de Cavaco e o martelo de Alegre


Por ironia do actualismo, foi António Barreto, enquanto activista do soarismo, que inventou esta de, nas presidenciais, ter de haver um povo de esquerda contra um povo de direita, como se um deles fosse uma espécie de rebanho de um senhor que nos pode levar para a terra prometida, atravessando o deserto...


Seria bem estúpida qualquer causa fracturante que dividisse o que resta da república dos portugueses entre os que desejam a integração da causa LGBT nos alfacinhas casamentos de santo antoninho e os que querem transformar a teologia da libertação na teologia defensora do Código Civil de Antunes Varela...


Essa do bloco conservador, faz-me lembrar o divisionismo eleitoral de Agosto de 1910: um bloco apoiante do governo, com teixeira-sousistas, dissidentes progressistas, franquistas de Malheiro Reimão, católicos franciscanos da democracia-cristã, contra um bloco conservador de oposição (lucianistas, henriquistas, franquistas, nacionalistas, católicos jesuíticos e miguelistas). Só havia 14 deputados republicanos.


O povo da república é bem mais do que a soma do povo de direita com o povo de esquerda. Porque há um povo livre, mas que ainda não se libertou dos controleiros do revisionismo histórico tribalista de certos neo-estalinistas que pretendem um regresso ao livro único da literatura de justificação dos situacionismos...


O povo depende dos indivíduos, de cada um que pensa pela própria cabeça. Não está nas gavetas manipuladoras do PSD, CDS, PS, PCP e BE, sendo bem mais complexo do que o eventual confronto de Alegre com Cavaco, porque eles não podem federar, nem em confronto, as concepções do mundo e da vida da maioria sociológica. Eu, por exemplo, preferia alguém que nos mobilizasse para risco de baralhar e dar de novo...


Aliás, Jesus Cristo não percebia nada de finanças e Manuel Teixeira Gomes tanto não foi eleito pelo povo, como, depois de se assumir como "pássaro fora da gaiola" de Belém, é que passou para o exílio de Bougie, lá para os lados da Argélia. Entre os dois paradigmas, prefiro a terceira via que nos dê aventura e pragmatismo