Odeio a política assente nas teias da sacristia. Tenho repulsa pela confusão entre o iniciático e a política, entre o profano dos interesses e o sagrado da metafísica. Rejeito a confusão patrimonialista, negocista ou feudal, pela ligação entre o espaço do doméstico, ou emprasarial, e a praça pública. Isto é, não admito que a lógica do público, do comunitário ou da república, seja subvertida pelos mais baixos fins das sociedades imperfeitas e dos corpos intermediários.
A nossa história contemporânea está cheia de maus exemplos oriundos deste confusionismo. E tardam as mostras de sincero arrependimento por anteriores faltas de autenticidade. Logo, temo que voltem a triunfar certas instâncias que bem gostariam de recriar um conflito entre política e religião, mesmo que seja o habitual sucedâneo que põe, de um lado da barricada, o humanismo católico e do outro, o humanismo laico.
A questão do centenário do 5 de Outubro, a que chamam indevidamente república, ou a recente questiúncula do casamento de pessoas do mesmo sexo, até pôs excelsos activistas dizendo que eram por isto ou por aquilo porque eram ateus ou crentes. Prefiro dizer que maçons e católicos, comunistas e monárquicos, republicanos e sindicalistas, isto é, alguns dos grupos mais enraizados e mais coerentes da recente história portuguesa, todos eles podem invocar perseguições de uns por outros, e até alguma espiral de violência simbólica.
Seria preferível dizer que entre eles pode haver lugares comuns que permitem o diálogo, sem o qual não pode haver pátria, humanidade ou justiça, esses valores mais perfeitos que devem mobilizar e dar inclusão às parcialidades, às facções e às paixões. Os adversários e concorrentes não têm que ser inimigos
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