Transmitir a significação. De Teresa Vieira
Transmitir a significação: a futuralidade da semente
Tradicionalmente mais próximo do universo considerado «feminino», mas sempre marcado pelo peso institucional masculino, a educação e se a queremos permanente, é impensável ser avaliada através de percentagens de graus adquiridos nos diferentes níveis de ensino.
Desde logo se a aprendizagem se concebe como permanente, implica não só novas modalidades de fazer face ao ritmo de estudo como, sobretudo, atentar num novo mundo de concepção do processo educativo em si mesmo.
Tenho para mim que o ensino destituído da relação com o vivido, desaba numa ausência de relação com a história da experiência de cada um que leva, quase forçosamente, a um desentendimento fracturante de mundos em vez da sua natural conciliação e relação interpretativa.
Cada vez mais se vai notando a brecha na fortaleza suposta das realidades que se ensinam. Face a esta força, noto também como docente e com frequência, que as mulheres têm condições particularmente favoráveis para colocarem na transmissão dos conhecimentos a sua realidade, o seu curricula que conduz a uma educação e transmissão de saber mais próxima da existência que vive e, talvez até mais aberta à mudança na forma de comunicar, de estar, de aprender, de ensinar, enfim, de criar laços de ver crescer tal como faria com os seus próprios filhos.
Neste sentido acima referido, substitui-se o que constitui apenas uma educação baseada nas necessidades do mercado de trabalho, por uma educação/ensino/conhecer assente na realização das pessoas, o que implica em si, uma felicidade extensível a toda a sociedade e consequentemente com capacidade de assimilar as necessidades do mercado de trabalho a que deve fazer face.
Afinal, quero referir a importância primordial que a felicidade domina no estar com o saber, na força em si mesma crítica e criadora face aos desafios dos tempos que vão chegando e nos quais cada um é chamado a viver.
A pequenez do horizonte quotidiano, torna insuportável para muitos não se sentirem num campo de guerras tribais sem qualquer laço de comunidade ou senso ou futuralidade.
Então será legítima a pergunta: de quem aguardar a ousadia de um basta que liberta? Dos homens que governam ou das mulheres que, no seu dia-a-dia sofrem há muito, a opressão das modalidades do poder exercido?
Há que entender e praticar o exercício da compreensão pelas infra-estruturas necessárias a um real ensino, e que até já são descuidadas ou desnutridas ou inexistentes nas próprias mulheres que aceitaram, para entrar no jogo, o aderir à convivialidade de valores que as próprias mães delas recusaram de um modo ou de outro.
Creio ser necessário a todos os que estão no projecto da educação e do ensino e da cultura nos dias de hoje, um regressar a um espaço de realidade geo-político que acima de tudo tenha a dimensão humana e a convivência de amparo das aldeias da nossa infância.
O amparo que a espantosa realidade das coisas tem quando nos mostra a pedra e a flor: quando nos transmite a significação, quer pelo ângulo feminino quer masculino, mas sempre em prol da futuralidade da semente.
M. Teresa R. Bracinha Vieira
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