a Sobre o tempo que passa: Cábula para uso de conselheiro de Estado

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

31.3.11

Cábula para uso de conselheiro de Estado

Conselheiros de Estado e congéneres dão palpites: entendimento partidário (Sampaio); grande coligação (Marcelo), maioria para o país (Bagão), salvação nacional (Almeida Santos). Soares fez dois governos FMI. O avoengo de Manela Ferreira Leite tramou o tio-bisavô do actual Presidente do Tribunal de Contas. Cavaco subiu ao poder quando tramou o apoio que o respectivo partido dava ao segundo governo FMI de Soares. Francisco Lucas Pires foi a única oposição de direita aos dois governos FMI. Foi o primeiro activista liberal depois do 25 de Abril. Chega de palpites revisionistas e comprometidos. Vejamos alguns do género.

Governo de João Crisóstomo, 1890, 462 dias, dito de "apaziguamento e concórdia". Provocou a revolta republicana do 31 de Janeiro de 1891.

Governo de Dias Ferreira, 1892, 404 dias, confirmou a bancarrota, apesar de visar a "acalmação partidária".

Governo de Ferreira do Amaral, 362 dias, 1908. Depois do regicídio. Dito de acalmação. Apenas concentrou o medo.

Governo dito da união sagrada, 1916, 405 dias. De união dos almeidistas e afonsistas. Entrámos na Grande Guerra, revolta dos abastecimentos, aparições de Fátima e golpe dos camachistas, com Sidónio. Falavam em pátria em perigo, Mas Camacho não entrou, queria ministério nacional com socialistas e monárquicos. Nem sequer a concentração republicana foi possível, com apoio dos católicos.

Governo de Cunha Leal, depois da Noite Sangrenta. 53 dias. 1921. 1 alvarista, 1 liberal, 1, outubrista, 3 democráticos e 3 independentes. Tentou mudar o rumo eleitoral, com uma concentração de todos contra os democráticos, mas estes voltaram a ganhar as eleições e formaram novo governo durante 646 dias.

Governos provisórios de Abril, de 1974 a 1976. Dois golpes de Estado, mas eleições livres. Bom resultado.

Primeiro governo do FMI: o de Soares com o apoio do CDS. 1978. 211 dias. Em nome da política de austeridade.

Segundo governo do FMI. O do Bloco Central, 1983-1985. Precedeu a entrada em cena de Cavaco Silva.