a Sobre o tempo que passa: Maçã prodigiosa. Por Teresa Vieira

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

25.4.11

Maçã prodigiosa. Por Teresa Vieira



Veio Abril feito de sonho e de mãos dadas
Num tom tão claro quando tudo é luminoso
E a alegria ali, fora de nós e viajando
Em carros triunfais de deuses e de prados.

E vi céus nas expressões dos homens e lágrimas como pérolas de lua
E era assim que Abril se passeava abrindo em leque
O ar mais pequeno de cada rua.

Depois vi comunhões, véus, cálices e auroras
E vi o mar a cintilar toda a diferença
E beijos de uma forte e suave espuma
Frescos em mocidade

Nas margens vertiginosas de cada duna.

E virgem, mas sabendo toda a vida
Olhou-se o povo num espelho sobrenatural
Viu destinos e verdades e venturas

E Abril em frémito
Tão perdidamente
Água fonte
Água crença
Água oceano.

Mistério novo

Tábua de lei
Pronto- socorro.

Teresa Vieira
Sec. XXI, dia 25