a Sobre o tempo que passa: O homem que passou (no DN de hoje, JAM)

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

5.4.11

O homem que passou (no DN de hoje, JAM)




Chegou ao fim o ciclo dos governos minoritários e já não parece ser possível até uma mera coligação de aritmética parlamentar absoluta. Daí que a encenação de campanha da entrevista de Socrates tenha continuado a exagerar, numa visão da essência da política como guerra entre amigos e inimigos, exagerando na manha da propaganda, no engodo da ideologia e na invocação autoritária da razão de Estado. 

Porque, depois do anúncio da não recandidatura de Zapatero, do abandono da presidência do FDP por parte do ministro alemão dos estrangeiros, todo o equilibrismo da "Interessenpolitik" em que assentou o negócio do PEC em Berlim tornou se um vazio. 

O ciclo socrático do teatro de gestão de crises perdeu-se na presente anarquia ordenada. Só um mínimo de patriotismo científico e de humilde sentido de serviço público nos poderia ajudar o regime. Mesmo que não perca, este foi o testamento de um homem que passou.