a Sobre o tempo que passa: junho 2011

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

29.6.11

Conservadores do que está

Gostaria mesmo de não ter razão neste meu desassossego com os pés no chão, mas não me conformo com os conservadores do que está. E que estarão. Prefiro seguir meu signo de pensar ser dizer não, principalmente depois de ler a confirmação do rotativismo.

Julgue-o quem não puder experimentá-lo

Quando eu era um miúdo, cheguei a ser especialista em programas de governo, nomeadamente nos presidenciais. Sei como se fazem essas coisas com assessores e adjuntos, como eu fui. Foi e é um erro, esse de programar discursos antes de fazer coisas. Porque, como dizia Camões, vale mais experimentá-lo que julgá-lo, mas que o julgue quem não pode experimentá-lo.


Das forças da inércia

Faltam ideias claras de reformismo, sendo marcante a cedência ao politicamente correcto da velha pilotagem automática, dando esperança às forças da inércia, numa confusão de estilos que revela sincretismo de fichas e certas banalidades discursivas. Será um texto devorável pelo contexto e onde o estilo dos ministeriáveis e a ditadura das circunstâncias acabará por ser predominante.


Programa

Acabei de ler o programa de governo. Um espaço de transacção entre as ideias pessoais de alguns ministros e a falta de ideias consolidadas dos dois partidos da coligação. Nalguns casos, tornam-se impenetráveis as cláusulas gerais e os conceitos indeterminados. E metade do texto poderia ser subscrito pelos anteriores governantes socráticos.


Dos liberalizadores de fachada

Bastava uma dúzia de decretos à Mouzinho da Silveira para refundar o Estado onde ele faz falta e extingui-lo no que ele é inútil. E somando reforço com abolição, a conta seria bem menos mesada. Por outras palavras, não chega liberalizar, impõe-se a libertação. Até dos chamados liberalizadores de fachada.


O estadão

O estado a que chegámos é, ao mesmo tempo, pequeno demais e grande demais. Pequeno demais para os nossos grandes problemas. Grande demais para os pequenos problemas do quotidiano, quando os poderosos, fracos perante os grandes, se vingam nos pequeninos. Apenas estou a glosar Daniel Bell e a rir-me do espectáculo e da retórica do estadão.



De Ávila e Bolama

Ninguém se lembra do António José de Ávila como esquerdista juvenil, reformista no assalto ao poder, marquês, ou duque. Ficou para sempre como autor de um decreto de 1871, por causa da proibição das conferências de uns então marginais, dado que estas "procuram sustentar doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições políticas do Estado"




25/6 às 22:12

A falsa consciência

O pior de muito anticlericalismo é a falsa consciência de antigos clericalistas. Foi mal de que padeceu certo jacobinismo e algum revolucionarismo marxistóide. E ainda por aí circula em música celestial laicista ou antilaicista. Mudam de cartilha, mas não de método. E a respectiva retórica cheira a fedor, gasta pelo mau uso e prostituída pelo abuso.

Universitarês

O universitarês é um primo do educacionês e pode ser praticado pelos que denunciam aristocretinamente o segundo, mesmo quando não disfarçam sua matriz seminarista e congreganista, de tão pouco agrado para a Igreja e as Congregações que estas, quase sempre, se livraram deles em devido tempo, recusando-lhes o "nihil obstat". Apenas têm de os gramar os incautos e serviçais.

25 de Junho:


Relendo velhas tradições dos que apenas gostam de saudar os vencedores: "trabalhar o cacete, desandar o bordão, descarregar o arrocho, são axiomas eternos e invariáveis regras de justiça. Adeptos de "correada não só que deixe vergão, mas que corra sangue, ....só o sangue do açoite cura". Quem se mete com o poder, leva, faz parte do manual dos intelectuários de serviço. Incluindo os viracasacas.

Com o blogue em forma de Facebook

Este blogue ficou em espera desde o dia 25 de Abril. Porque ainda havia Sócrates. Porque já havia campanha eleitoral. Porque o seu autor, todos os dias escrevia aqui: http://www.facebook.com/jose.adelino.maltez. Por causa da interacção. Um trimestre depois, já há parlamento, já há ministros, já há secretários de Estado e urge tomar posição. Vou voltar. Mesmo que seja apenas para repetir alguns dos postais que nasceram no facebook. Porque temo que volte a ser condicionado pelas circunstâncias.