a Sobre o tempo que passa: Não sei por que é que me tiraram das sondagens. Estou na mesma situação que Cavaco

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

12.9.05

Não sei por que é que me tiraram das sondagens. Estou na mesma situação que Cavaco

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Leio no Diário de Coimbra: Manuel Alegre não esteve presente na cerimónia de inauguração da estátua que o homenageia, no Parque Dr. Manuel Braga. A «sensibilidade em se olhar no bronze» impediu-o de marcar presença em Coimbra, apesar de ter agradecido o gesto. «Impressiona-me saber que há um estudante transformado em bronze com uma cabeça parecida com a minha», escreveu, numa mensagem ontem lida pela irmã, Teresa Alegre Portugal.

A ausência do poeta foi notada, mas justificada. «Sinto um certo pudor», explicou, confessando que foi «a amizade» e o não querer «ofender quem me quer bem» que o levou a aceitar a homenagem, preparada há mais de um ano pelo autor da estátua, Francisco Simões, um grupo de amigos e a Câmara de Coimbra.

Menos entendida foi a falta dos principais representantes do Partido Socialista concelhio e distrital, numa homenagem que pretendia personalizar, numa estátua, os 40 anos de vida literária do poeta, que é também militante do PS.

Manuel Alegre esclareceu que este gesto, vindo de uma câmara com um presidente com «uma cor partidária» diferente da sua «representa uma ruptura com a pior das tradições, aquela a que António Sérgio chamou “o reino cadaveroso” do sectarismo» e «confirma o espírito de tolerância de um certo modo de ser e conviver que faz parte da cultura de Coimbra».

Por isso, continuou, «só uma cegueira mesquinha procurará ver neste gesto algo mais que a celebração desta cultura». A verdade é que, no Parque da Cidade, onde passará a estar agora uma imagem em bronze de Manuel Alegre, com mais de dois metros de altura e enrolado numa capa de estudante, contava-se ontem menos de uma dezena de militantes socialistas. E isto, apesar de Carlos Encarnação ter confirmado que foram «endereçados convites a todas as pessoas e entidades que fazem parte do Protocolo da autarquia», incluindo representantes de partidos políticos do concelho e do distrito.

O autarca não quis comentar as ausências. «Não tenho nada a ver com isso», afirmou, preferindo confirmar que «é merecido e justo» o poeta «ter uma estátua aqui». Pouca gente terá cantado melhor Coimbra, construído melhor a memória de Coimbra, referenciado melhor a nossa cidade. Manuel Alegre é um poeta de Coimbra», continuou.