a Sobre o tempo que passa: SSS, dinossauros unidos, jamais serão encavacados

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

8.9.05

SSS, dinossauros unidos, jamais serão encavacados



Perdoem-me, leitores, por tanta reportagem íntima. Hoje falarei do que me aconteceu esta noite, quando adormeci de televisão ligada e acordei estremunhado com esta notícia: milhões de portugues vão assistir, esta tarde, à implosão das duas torres inacabadas do antigo complexo da classe política por trás do Palácio de São Bento, que foram atribuídas ao PS e ao PSD, com caves para o PP, o PCP e o BE. É o momento que vai marcar o arranque do projecto da União Europeia para a Península Ibérica, um investimento que ronda os mil milhões de euros.

Depois ouvi que o Presidente da República chamou a atenção para a necessidade de "dignificar a função pública”, sustentando que o seu "profissionalismo e dedicação" não deve ser esquecido no momento em que lhes são exigidos sacrifícios.



Só comecei a acordar quando afinal notei que José Mourinho, the best of the tugas vai ter estátua falante no Museu de Madame Tussaud´s. E finalmente, saí do estado depressivo, quando ao ouvir a revista da imprensa, nos comunicaram que a parangona do jornal da Olivedesportos, comemorando o empate de Scolari em Moscovo, nos anuncia que Saramago e Siza apoiam Soares... A nossa pequenez de mortais, marcada pela ética republicana, de nada vale contra a grandez transcendente destes pais do espírito. Resta-nos bater palmas e continuar a assistir às séries B, C e D do novo "Parque Jurássico", a não ser que Aníbal passe tais piques alpinos com a memória dos respectivos elefantes e nos afunde de forma proporcionalmente inversa...

E visitando os arquivos da Tinta Fresca de Alcobaça, notei que em Maio de 2001, Mário Soares e Manuel Alegre foram os convidados da segunda conferência realizada no Instituto Politécnico de Leiria, subordinada ao tema "Literatura e Cidadania", onde Soares clamou: "Manuel Alegre é o maior tribuno da 2ª República, é um grande orador", denonominando-se "político reformado" e dizendo que "nem sempre a boa literatura se conjuga com a boa cidadania". O discurso de Manuel Alegre foi breve e directo. Entre outros aspectos, sublinhou a importância e o poder das palavras, afirmando que estas podem mudar a vida das pessoas. Deu como exemplo o poder que tinha a poesia na sua geração, já que foi utilizada como uma arma contra a barbárie. "A poesia é um contra-poder absoluto e é, por isso, que os tiranos não gostam dos poetas", declarou convicto. José Saramago, sentado na primeira fila do auditório, comentou: "nós somos vítimas e cúmplices da globalização porque não nos opomos!"