Quando os caciques não levavam dinheiro aos clientes...
A curiosa disputa da competência bombeiral, que marca a implosão de hoje das nossas troianas torres, abrilhantada com a presença de Sócrates, para além de revelar o decadentismo destes nossos bairrismos, faz-nos recordar a lógica das nossas distribuições de fronteiras municipais, mais rígidas do que as fronteiras da África pós-colonial.
Basta reparar que o sítio que foi da Torralta, estando mesmo juntinho à Baixa de Setúbal, faz parte do Alentejo, mas está preso por uma fatia chilena de terra ao município de Grândola, lançando Alcácer do Sal para a interioridade.
A coisa tem a ver com o velho cacique republicano José Jacinto Nunes que pôs Grândola no mapa antes de Zeca Afonso. Nascido em Pedrógão Grande em 1839 e falecido em Grândola em 1931, exerceu, a partir de 1870, quase ininterruptamente, a presidência da Câmara Municipal de Grândola: embora candidato a deputado em 1870, apenas foi eleito deputado em 1893, pelo círculo de Lisboa, tendo sido um dos primeiros deputados republicanos a entrar no Parlamento. Eleito várias vezes deputado, foi seguidamente eleito senador. Tomou parte nas Constituintes, mas nunca quis ser ministro nem nunca foi condecorado. Teve três parlamentares na família: os genros Brito Camacho, que também foi ministro e chefe do Partido Unionista, e Mário Infante de Lacerda, bem como o seu filho Jorge Nunes, inúmeras vezes eleito deputado e ministro de várias pastas.Exerceu sempre a advocacia em Grândola sem nunca ter cobrado honorários a qualquer cliente.
Para Grândola conseguiu levar o caminho de ferro, com o apoio do filho Jorge Nunes, a quem foi dado o nome da maior avenida da Vila e que vai da Praça da República até à estação ferroviária. Conseguiu ainda a criação da Comarca e que os terrenos onde hoje se situa o complexo turístico de Tróia fossem incluídos no Concelho.
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