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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

20.3.06

Soberanos loucos que não regiam, verdadeiros métodos de estudar, patuleias, autoritarismos e as viúvas de Portas



Neste recomeço madrugador da longa semana que aí vem, sobretudo para quem está adoentado, noto, na minha agenda, que, hoje, se comemora tanto a morte da rainha louca, D. Maria I, que era soberana, mas não regia, em 1816, como também o passamento de Luís António Verney, em 1792, o tal que, da estranja, nos quis dar o verdadeiro método de estudar, coisa que ainda não encontrámos, porque nem todos os que, da estranja, nos dão lições têm sequer método e por cá já temos tudo, a começar por um ministro da ciência e da verdadeira inteligência.

A Itália e Paris já não são luzeiros da inteligência cristã, polida e civilizada. Os holofotes de Oxford e Navarra já estão fanados e foram quase todos recrutados por Belém e pela banca. E até Marques Mendes já não conta com a Universidade Atlântica que o sócio Isaltino lhe forneceu e para onde costumava convidar Sócrates, com o apoio do seleccionador nacional do grupo de Bilderberg que punha a coisa na primeira página do seu semanário.



Por isso, importa ir ao dia de ontem, que tem duas datas que não podem esquecer, dado reflectirem as tradicionais más relações que, em Portugal, existem entre o Povo e o Estado. A primeira tem a ver com o começo da sublevação da Maria da Fonte, em 1846. A segunda com o plebiscito que aprovou em 1933 a Constituição dada por Salazar à Nação, depois de afastar, do comando da Ditadura, o chamado espírito republicano e de mandar traduzir em calão o vaticanismo e o neo-organicismo galicista.



Na primeira, se, no terreno militar, a grande coligação de miguelistas e setembristas deu cabo do cabralismo, assinale-se que foi, também da estranja, em no0me do princípio da hierarquia das potências, que veio uma divisão militar espanhola, uma esquadra britânica e as teias da diplomacia francesa, do tempo do enrichez vous, as quais nos obrigaram a ter que voltar a gramar os Cabrais, através da Convenção do Gramido, sem a criação de um think, thank entre Georgetown e a Rua da Palma de Baixo que está por Cima, com o aplauso de Bilderberg.

Na segunda, quando até as abstenções contaram como votos a favor, importa reter como lição que o pior do autoritarismo em Portugal não está na loucura totalitária do quem não é pela revolução é contra a revolução, como o desmando gonçalvista chegou a discursar, mas antes na manha autoritária do quem não é contra mim é a favor de mim, como o santacombadense praticou, em nome da providencialista e maniqueísta cidade de Deus. De um ao outro venha o Diabo e escolha. Ou uma revolta que, sem revolução, os esmague.



Já agora, anteontem, sábado, dia 18, reparo que, em 1897, foram criadas as escolas normais e que, em 1911, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Uma nota de pesar, de hoje, para a morte de Fernando Gil, o filósofo assessor de Mário Soares e de Mariano Gago, amigo pessoal deste último, que logo emitiu nota oficiosa do seu ministério, divulgando o infausto. As ciências sociais e humanas perdem assim mais um aliado que, apesar de logicista, sempre poderia alinhar na necessária resistência ao neopositivismo, com ar de pós-moderno.



Não sou capaz de comentar o que ontem ocorreu no CDS. Reparo que o dito antagonismo militante das viúvas de Portas põe um a dizer que quer um partido sedutor, atractivo, sexy e outro, a proclamar, de forma minhota, que a missão do mesmo é ser oposição ao Engenheiro António Guterres.

Apenas noto que, no processo do "lobby" portista para o regresso do criador, as pernas de tal criatura vão além da revista e do blogue referidos por José Pacheco Pereira, dado que importa assinalar a fábrica doutoral do Senhor Rumsfeld e as oficinas que a abastecem, bem como as próprias formas de gestão deixadas no Instituto de Defesa Nacional por um dos génios estratégicos que o "bushismo" caseiro nos invencionou.

Por isso, esboçamos um sorriso quando reparamos que, neste fim de semana, se comemorou o terceiro aniversário da intervenção da República Imperial na Mesopotâmia, na mesma altura em que se registou a inclusão do tal instituto, que foi nacional, na lista do PRACE.