a Sobre o tempo que passa: Democráticos, aristocráticos, extremistas, presença de Régio, magnicídios e conselheiros de Cavaco

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

10.3.06

Democráticos, aristocráticos, extremistas, presença de Régio, magnicídios e conselheiros de Cavaco



Hoje, dia dez, do mês três, importa começar por assinalar que em 1927, surgia a revista "Presença", a qual sempre rimou com José Régio e chegou mesmo a irritar o jovem literato e artista Álvaro Barreirinhas, mais conhecido por Cunhal, que se insurgia contra a circunstância de personalidades antifascistas como o vilacondense citado, viver a arte pela arte e não alinhar nos artistas comprometidos do realismo socialista. Por mim, ainda hoje continuo a procurar a salvação do mundo, para utilizarmos o título de uma tragicomédia do mesmo Régio, de 1954.

Porque ainda hoje, nos dividimos entre o partido democrático, para quem só os princípios da liberdade são a garantia do progresso, o aristocrático, defensor da qualidade dos governantes contra a inconsciência e a mediocridade das maiorias, e o extremista, acreditando em regimes de autoridade baseados as aquisições da Ciência e da Técnica. E todos apenas vão concordando naquela metodologia que os leva a estar em desacordo, como Lenine a invocar Ford e Taylor, o futurismo fascista a repetir as imprecações do surrealismo anarcocomunista ou Georges Sorel a servir de inspirador para todos os totalitarismos dos anos vinte.

Resta-nos a esperança de um rei Pedro da Traslândia que proclame: venho nu, cheio de boa fé e de boa vontade. Perdi toda a ciência que tinha..., que julgava ter, e que nem era ciência nem era sabedoria. Agora não sei quase nada. Vou tentar aprender a cada instante com as realidades interiores e exteriores. Um rei Pedro, aprendendo com aquele Profeta que volta a falar num novo Evangelho sem palavras, ideias e doutrinas: Enchestes os vossos livros de letras; as letras mataram o Espírito! Viveis soterrados em fórmulas.



Prefiro também recordar que hoje, em 1826, se assinala a morte oficial de D. João VI. Coisa que, só mais de uma centena de anos depois, se provou ser assassinato, com arsénio. Para uns, adeptos do carlotismo, levado a cabo pelo médico, que era maçon. Para outros, adeptos dos liberais, executado pelo cozinheiro, que era apostólico. De qualquer maneira, inauguraram-se os magnicídios neste país dito de brandos costumes, onde também houve um regicídio, em 1908, um presidenticídio, em 1918, um primeiroministricídio, em 1921, e o assassinato silenciado do chefe da oposição, em 1965, para não falarmos no acidente de Camarate, em 1980.



Por isso, desejo longa vida ao presidente Cavaco, aproveitando a ocasião para saudar os novos conselheiros da Corte de Belém, em especial os meus colegas Blanco de Morais, da FDL, e José Jacinto, do ISCSP, porque, de outros, não sei suficiente inglês para swordizar e reparar como não regressou Joaquim Aguiar. Saúdo também o fim da prestação do Carlos Gaspar e espero que, no Museu da República, se mantenha o António da Costa Pinto, a fim de mantermos a continuidade suprapresidencial.