a Sobre o tempo que passa: Vira o disco e toca o mesmo...nestes ambientes de micro-autoritarismo subestatal

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

19.1.07

Vira o disco e toca o mesmo...nestes ambientes de micro-autoritarismo subestatal



Desenganem-se, leitores não estimados, esses que não entendem o subliminar da ironia. Não sou mercenário de nenhuma laia, nem tenho suficiente "intelligence" para misturar alhos com bugalhos, como fazem os "bufos" de sempre, quando entram em autogestão e se entregam à venda a retalho dessas peças, num qualquer departamento do situacionismo de sempre. O tal que precisa do ódio para continuar o ritmo clássico do maquiavelismo de alcatifa, sempre a dividir para reinar, sempre a usar os jagunços para o trabalho sujo, sempre a aplicar a lei para os adversários e a dispensar dela os bons amigos e dependentes. Ainda ontem me contavam estudantes que um certo candidato a um qualquer lugar universitário, numa bela atitude pedagógica, ia a uma sessão de esclarecimento com membros de um determinado colégio eleitoral e, à frente de todos, telefonava a um influente, para este arranjar colocação a um dos grandes eleitores, neste caso, um simples estágio, valendo-se daquilo que, com rigor, se pode qualificar como aplicação dos instrumentos do bem comum para favorecimento de um facciosismo, em disputa eleitoral. E tudo feito à vista desarmada, como manda o poder nu do Bertrand Russell. Quem manda? O Chefe! O Chefe! O Chefe!



Poucos tempo depois, no silêncio amargurado do gabinete, uma jovem confessava-me que, por não ter ido para o grupo de assalto número um, andavam a acusá-la de ligações libidinosas com uma das peças influentes do que pensavam ser o grupo número dois, nesse vale tudo, onde mandam pretensos discursadores sobre os princípios e a honra. É por isso que não vou tecer comentários ao último discurso de Américo Tomás em 24 de Abril de 1974. No dia 25, pela manhã, estava marcado o meu exame de medicina legal, que efectivamente se realizou, e, pouco antes, andava entretido a estudar o regime das autópsias e as formas populares de uso de abortivos, na sebenta do ilustre mestre Duarte Santos. Nada sei das latinadas em que são hábeis os que então decoravam as lições do cardeal Ratzinger, para poder concluir, como um ilustre cónego, que "os cristãos que vão votar 'sim' no referendo serão alvo de excomunhão automática, a mais pesada das censuras eclesiásticas".



É por isso que vou espreitando as notícias sobre o lançamento de nova lei anti-corrupção pela bancada do PS. Não sei se, no articulado da mesma, se inclui a necessidade de publicação da folha dos vencimentos não penhorados, para quem se candidata a um cargo público que gere dinheiros do povo, ou se tudo é baralhado se previamente se anunciar , mesmo sem prévia adesão formal dos próprios, que a mistura pode incluir conselheiros do actual palácio de Belém, activistas genealógicos do cunhalismo, petrolíferas eminências, ex-assessoras de um antigo primeiro-ministro, e proeminências do MDLP, lado a lado, às vezes em coincidência, com antigos extremas-esquerdas e situacionistas de sempre, com indemnizações como gestores públicos despedidos, numa das habituais coerências na actual gestão da subsidiocracia, em que é hábil o bloco central de interesses, com gordos suplementos aos postos de vencimento, para benefício dos que se entregam à encomendação feudal.



Se isto quiser ser o regime a que chegámos, apenas digo que é interessante este vira o disco e toca o mesmo. Manda quem pode e só deve obedecer quem deve!
Mas não é só por haver doentes no mundo que a saúde deixa de ser um bem. Pode vencer quem não tem razão. Os maquiavélicos são aqueles que, parecendo ter razão a curto prazo, a perdem no médio e no longo prazos. Não acredito na lógica do homem de sucesso, o tal que utiliza a fraseologia da ética da responsabilidade, criticando os velhos do Restelo, para disfarçar a sua falta de ética de convicção. Por mim, continuo a seguir da "Virtuosa Benfeitoria" do Infante Dom Pedro e recordo-me sempre que os maquiavélicos se enganaram e o mestre só viu as suas principais obras publicadas depois de morto, nomeadamente a unificação italiana, que só ocorreu na segunda metade do século XIX. Os pretensos maquiavélicos, defensores da liberdade, nessa mistura de descupabilidades trotskistas e neofascistas, já embusharam todos e estão pendurados na corda que enforcou Saddam, mesmo que cantem o hossana nas alturas.