a Sobre o tempo que passa: No fim da procissão do Corpo de Deus...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

7.6.07

No fim da procissão do Corpo de Deus...



Hoje, dia de memória de todas procissões citadinas da nossa história, passo o olhos pelos jornais do dia e recorto a imagem do regime que vinha no "DN", e que, agora, utilizei para qualificar o meu postal de ontem. A activíssima hierarca educativa, agora reconduzida, foi-nos ontem apresentada ao vivo através de uma reportagem da SIC sobre o encerramento de escolas primárias na província desses feios, porcos e sujos lusitanos nortenhos que ainda vivem em aldeolas. Vi, ouvi e li com toda a atenção e, numa primeira impressão, apenas reparei que a imagem corresponde ao conteúdo. Por mim, apenas protesto. Não é este o meu PS, o partido que me habituei a admirar e com quem tenho activamente conspirado pela liberdade desde 1974.

Daí que chame a atenção para o pequeno artigo de dois economistas do PSD na secção económica do último jornal "Expresso", onde Manuela Ferreira Leite denuncia o caso desta margaridinha sem canaviais e Miguel Cadilhe clama contra a política de despovoamento. Por isso não vou comentar todos estes bailados de notáveis sistémicos com que nos querem baralhar, como se o país se reduzisse ao retrato anti-Vital Moreira, constante do "Jornal de Negócios" de ontem, subscrito por Fernando Sobral, onde o líder do blogue "Causa Nossa" aparece como o novo cardeal de Sócrates, ou aos galhardetes sobre a mesura das palavras de Saldanha Sanches e do Conselho Superior do Ministério Público, quanto às causas da corrupção.

Nem sequer me entusiasmam as patrióticas palavras de outra causanossense na SIC Notícias de ontem, onde as relações do velho MRPP com os interesses norte-americanos não foram abordadas por nenhum social-fascista que clamasse contra a NATO e o Pacto de Varsóvia. Gostei mais da impressão que causaram dois antigos presidentes de Lisboa, entre João Soares e Pedro Santana Lopes, glosando parques de estacionamento e milhares de azulejos empilhados que ainda não foram colocados na Praça da Figueira. Porque estas duas forças da natureza assim perdem as energias liberdadeiras de que dispõem, estacionando na betesga das pequenas vinganças, quando precisávamos deles no Rossio da defesa das liberdades ameaçadas pelo decretino hierarquista que nos polui com cinzentões.



A conspiração castífera e capitaleira que ameaça manter o centralismo partidocrático continua a cabralizar a democracia neste dia de procissão do Corpo de Deus. Apenas recordo que nesta feria de 1838, quando os generosos setembristas de Passos Manuel já tinham caída nas teias pós-revolucionárias dos ordeiros, emergiu o ex-radical António Bernardo da Costa Cabral. Estávamos no desmantelar da feira, no fim da procissão solene, quando Sá da Bandeira, então acompanhado por Silva Carvalho que, no mês anterior regressara do exílio, são atacados pela populaça, salvando-os o próprio Costa Cabral, que é obrigado a disparar sobre os sediciosos. Sá da Bandeira apenas escapa do golpe de baioneta de que é alvo, porque este toca na parte metálica das condecorações com que está ornado.


Por outras palavras, no fim das procissões, emergem sempre ex-radicais que se vestem de adoradores da ordem estabelecida e tratam de fazer a limpeza da imagem dos regimes, quando estes entram em degenerescência crepuscular e já não conseguem fazer o inventário dos devoristas das privatizações feitas segundo a lógica do sapateiro de Braga, onde nem todos comem e também não há moralidade. É por isso que vou ligar a SIC Notícias. O Santana vai falar às dez e todas as secções do PSD da capital estão interessadíssimas em saber como é que a Helena Lopes da Costa vai tramar a Paula Teixeira da Cruz, nessa colocação de pedras no terreno que prepara a sucessão de Marques Mendes.

Aliás, toda a partidocracia capitaleira já conhece as mega-sondagens que dão o presente resultado do Negrão e o quase desaparecimento do Telmo, bem como as razões que levam Manuel Monteiro a pôr como hipótese da desistência. Coisas que pouco me interessam. Vou reler o artigo de Miguel Cadilhe e notar como as gerações futuras nos qualificarão como os despovoadores de Portugal, por andarmos a discutir as senhas de gasolina de Mendes, as "inside informations" de Saldanha sobre os MPs ou os telefonemas e cartas que alguns notáveis trocam com hierarcas norte-americanos sobre o acordo das Lajes de 1995, o tal que ainda não foi ratificado pelo Senado de Washington e que não sabe o que é o PRACÉ ou o SIMPLEX, agora postos em ritmo coimbrense, depois de afastado o génio madeirense que pensava ser chamado para secretário de estadão, mas que apenas vai preparando a scientific methology: of the project to the report...