a Sobre o tempo que passa: Quando os moribundos voltam a ser aparições... o importante não é ser ministro, mas tê-lo sido

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

23.9.07

Quando os moribundos voltam a ser aparições... o importante não é ser ministro, mas tê-lo sido


Abro os jornais de domingo e deparo com uma parangona onde se fala de dois políticos muito à esquerda que aumentaram os respectivos rendimentos declarados de forma directamente proporcional ao negocismo: um passou de 9 mil para 172 mil euros e outro, de 36 mil para 371 mil, assim se confirmando o dito de Almeida Santos, segundo o qual, em Portugal, o importante não é ser ministro, mas tê-lo sido. Entretanto, um dos luíses denuncia a circunstância de ter sido assediado para uma conspiração de almoçadeira por um dos três principais mosqueteiros do outro luís, mais luizinho, seu rival, o tal que considera o anti-otismo como nova dogma de fé do principal partido da oposição, assim declarando como heréticos todos os laranjas do Centro e do Oeste, liderados pelo professor doutor Manuel Lopes Porto.


Por outras palavras, o situacionismo parece cada vez mais enredado num situacionismo serôdio, onde o rejuvenescimento parece vir das visitas à Lusitânia dos comissários da ONU para os refugiados e para a luta contra a tuberculose, Guterres e Sampaio, ou para as actividades lobístico-petrolíferas da fundação do antepenúltimo presidente da nossa república, aprofundando as relações com o regime huguista que ainda recentemente condecorou o mais citado e mais dos nossos investigadores de ciências sociais. Enquanto isto, outro monstro sagrado da globalização alternativa, o galego Fidel, passa de moribundo a aparição, cem dias depois da última descida à televisão, agora para apoiar a nuclearização do Irão e aquecer a defunta guerra fria.


Com o bastonário dos nossos advogados a assumir-se como arrazoador de uma das partes do mais mediático e global dos processos de investigação policial da nossa história, onde os respectivos pergaminhos penalistas garantem a natural imparcialidade da pessoa colectiva pública que representa, resta-nos comentar a gestão da carreira de José Mourinho. Apenas reparo como toda esta sucessão de disfuncionalidades já transformou o nosso sistema de gestão da democracia num espaço de cadáveres adiados que procriam os métodos de "killer instinct" dos perfumados abutres que aguardam, por trás do reposteiro, o momento exacto para que, mais uma vez, Talleyrand coloque no trono um qualquer pateta que lhe possa manter o estatuto de traidor perpétuo.