a Sobre o tempo que passa: As pessoas quando viram que nem os lugares da Igreja haviam sido respeitados pelos indonésios fugiram todas dizendo: “Vieram para nos matar a todos”

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

18.10.08

As pessoas quando viram que nem os lugares da Igreja haviam sido respeitados pelos indonésios fugiram todas dizendo: “Vieram para nos matar a todos”


Leio, no jornal "Diário do Minho" uma recente entrevista do meu querido Padre Felgueiras. Transcrevo excertos, sem muitos comentários. Apenas recordo que, quando o  conheci,  vivia em Cernache, adolescente, prestes a entrar para a Universidade e devo-lhe grande parte de quem sou, apesar de nunca termos falado de religião. Fui obrigado a ler tudo sobre Baden Powell e até me proporcionou um especial curso de dinâmica de grupo, dado pelos professores do nascente ISPA. Apenas assinalo que, nas paredes do meu quarto, além dos familiares, apenas conservo a fotografia deste missionário do século XX. Com ele, aprendi que sermos portugueses era sermos desses universais que devem diluir-se em todos os outros.

DM – Como se deu a ida para Timor?

Estava no Colégio da Companhia de Jesus, em Cernache, e o Padre Provincial propôs-me ir para Timor. Isto em Maio de 1970. Fiquei surpreendido e, então, pedi um tempo para reflexão. 

Em Dezembro desse ano, parti de Cernache rumo a Timor. Neste tempo entre o pedido do Provincial e a minha partida, li muitos livros sobre Timor a fim de criar uma visão mais objectiva daquele País. 

Li praticamente todos os livros que havia e que estavam na biblioteca do colégio e isso enriqueceu a minha visão. Preparei-me para partir, com consciência renovada da minha missão de cristão, de sacerdote e de jesuíta. 

Tomei esta missão a sério, não apenas como uma aventura cega. Inseri-me no espírito dos grandes missionários, sabendo da responsabilidade que era e da própria beleza da missão em si.

Com o domínio indonésio não havia guerra no interior mas apenas nas fronteiras, para onde se dirigiam diariamente milhares de homens soldados.

Mas, a invasão alastrou.

O Seminário foi bombardeado e totalmente destruído. Durante este ataque, lembro que estávamos no interior da capela, estendidos debaixo dos bancos, para evitar os estilhaços.

Estávamos persuadidos de que os indonésios iriam respeitar os lugares da Igreja e até tínhamos posto bandeiras brancas, mas mesmo assim fomos bombardeados.

Quando parou este ataque saímos de lá. Instalámo-nos numa casa de um timorense que nos deu guarida, no relevo da encosta da cidade. Começámos a cavar buracos e valas no chão para nos protegermos dos bombardeamentos, que aconteciam diariamente, de canhões, morteiros e metralhadoras.

Foi uma época terrível.

As pessoas quando viram que nem os lugares da Igreja haviam sido respeitados pelos indonésios fugiram todas dizendo: “Vieram para nos matar a todos”.

Nesse preciso momento, a Indonésia perdeu todas as hipóteses de simpatia dos timorenses.
Este ambiente de violência decorreu até ao referendo de 1999, que foi favorável à independência de Timor.


Nome Associação: MISSÃO CATÓLICA PORTUGUESA DO PADRE JOÃO FELGUEIRAS 
Morada: RESIDÊNCIA DOS PADRES E IRMÃOS JESUITAS // LEHANE
 
Pessoa de Contacto: PADRE JOÃO FELGUEIRAS
 
Telefone: 322272
Fax: 323832