Da presente trapalhada, a única saída que convém à pátria e à democracia é a completa libertação da pessoa do Primeiro-Ministro das presentes insinuações, a fim de que ele possa estar livre dessas suspeitas, para ter que responder politicamente pelos seus actos políticos, e para que ele se arrependa da co-responsabilidade que tem sobre um sistema legislativo e politiqueiro de que ele foi, agora, a principal vítima. Quem respondeu como respondeu aos desenhos das casas da Guarda e à licenciatura na Universidade Independente, criou um estilo que levou aos presentes exageros. Os tais que acabaram por injuriar, ou difamar, terceiros, só pela circunstância de serem a sua mãe, o seu tio, ou o seu primo. Por outras palavras, a presente trapalhada está a afastar do civismo e da participação política todos os portugueses que não estão dispostos a confundir a sua vida privada e os seus círculos de intimidade familiar com o escrutínio público da própria devassa. Julgo que, a qualquer homem bom, a qualquer homem e mulher livre, de bons costumes ou de boa vontade, enoja este confusão de círculos íntimos, pessoais, familiares e políticos.
Acredito que há uma campanha negra e que ela se manifesta pelos fariseus que atiram pedras a todos os sinais exteriores de riqueza, em nome da inveja. Julgo que a conduta de José Sócrates Pinto de Sousa, manobrando neste mar encapelado da sondagem, da imagem e da sacanagem, tanto usou do ambiente em causa para ascender, como, eventualmente, corre o risco de se estatelar no lodo em que assenta a respectiva estátua. A táctica de defesa que usou pode ser compreensível e eu próprio, com o meu feitio, era capaz também de cair na esparrela, caso não dispusesse de suficientes sinais que me permitissem a contra-ofensiva, provando a teoria da conspiração.
Infelizmente, o resultado foi o de confundirmos a política de Estado com a politiquice da Liga Profissional de Futebol e da Federação Portuguesa de Futebol, com todos os nossos grandes jornais e semanários a atingirem o nível dos jornais desportivos, todos eles sensacionalistas. Os grandes líderes partidocráticos passam a ter o nível dos Pinto da Costa, dos Filipe Vieira e dos Soares Franco e corremos o risco de haver mais Valentim Loureiro, mais Fátima Felgueiras e um ou outro Valle e Azevedo. Temos uma opinião pública traquejada para esse tipo de hiperinformação, onde abundam as folhas e as cascas de árvores, os vermes, as lixeiras e outros dejectos, mas incapaz de observar o todo da floresta, porque as explicações dos pormenores não nos conduzem à compreensão da todo, a prender uma peça com outra peça, para, sem subirmos nas causas previamente estabelecidas dos manuais operacionais da tecnologia e das FAQ, podermos aceder ao todo, através da urgente intuição da essência.
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