a Sobre o tempo que passa: O neofeudalismo das companhias de economia mística que nos vão corroendo a democracia...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

28.4.10

O neofeudalismo das companhias de economia mística que nos vão corroendo a democracia...


Hoje não há comissão parlamentar de inquérito, devido à greve dos funcionários de São Bento e ao medo da administração da entidade mostrar a verdade ao país. Mas ontem a democratíssima e representatívissima comissão permitiu-nos fazer uma viagem pelo neopombalismo das companhias de economia mística, essas entidades a que alguns dão o nome de empresas e por circulam sujeitos nomeados pelos favores e compadrios do clientelismo banco-burocrático.

Os tais que, feitos gestores, utilizam tais molduras como brinquedos com que vão gastando o dinheiro que não é deles, como almoçaradas de trabalhos, carros de alta cilindrada, antes de serem ou depois de serem membros da alta governança do estadão.

E assim vamos nacionalizando os prejuízos e privatizando os lucros das forças vivas que vão manipulando a vaidade de uma fauna daquele bloco centraleiro que pouco se importa com ganhos ou gastos. Basta-lhes um contratozinho onde acautelem indemnizações por despedimento, mesmo que seja por justa causa, recebendo ampla protecção da consultadoria e dos grandes escritórios da advocacia e das avenças, nessa federação de colegas que nos continua a pesar no lombo. E é em torno destas falsas luminárias que continua a gravitar certa comunicação social e certo comentarismo opinativo, dados à encomendação.

Só quando os interesses da oligarquia accionista, dos velhos e novos ricos, perceberem que correm risco é que esses escudos invisíveis dos favores poilitiqueiros e plutocráticos poderão começar a estilhaçar. Por enquanto ainda persistem os cânticos celestiais sobre o "rating" e a dívida, a ditadura da incompetência continuará a amargurar-nos, com estes bonzos instalados nos vários lemes destas grandes e pequenas governanças, entre o ministerialismo e o micro-autoritarismo sub-estatal.

O neofeudalismo patrimonialista que vai corroendo a legitimidade racional-normativa já não cumpre a ideia de Estado de Direito. Espero q ue antes de se agravarem os sinais de bancarrota tenhamos a coragem de demonstrar a existência de uma grandiosa estátua de calhaus com os pés fragmentados pela poeira dos pequenos interesses dos sucessivos incompetentes devoristas...