a Sobre o tempo que passa: Dez meditações deste dia, ao correr da tecla

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

25.12.10

Dez meditações deste dia, ao correr da tecla





1
Lembro a catedral-mesquita de Santa Sofia, onde a Europa não acaba e a Ásia está aos pés. Onde o sincrético não é mistura, mas ascensão!


2
Istambul, Constantinopla, ou Bizâncio..., como se fosse o Jardim da Estrela, com o Tejo mais adiante e as Américas do outro lado, nas malhas que Alexandre, o macedónio, nos teceu, a caminho da Índia.


3
Tudo por causa de uma foto que foi tirada em confusão, do lado oposto, para que tudo se troque, à imagem e semelhança uns dos outros...


4
E não é por acaso que os adeptos de Cristo e de Maomé celebram, em comunhão, o humanismo do preceptor de Alexandre, um tal fundador dos politólogos que serviu Atenas sem ser ateniense, mas que de lá foi expulso, por errada informação dos agentes secretos da "polis" que também condenara o mestre dos mestres à cicuta... A Europa já era!


5
Prefiro a capela de Mértola, que foi igreja, mesquita e, de novo, igreja, para, nos intervalos, servir também de sinagoga. Até já lá assisti a serviço místico, presidido pelo bispo de Beja, em cerimónia com judeus, cristãos, muçulmanos, maçons e meros descrentes de tudo...


6
Foi há uns anos, com a Helena Vaz da Silva a inspirar e o Rosado Correia a fomentar. Até os judeus e os muçulmanos rezaram em português e as beatas alentejanas que lá estavam não conseguiram destrinçar as várias peças das religiões do Livro. O centro da Europa poderia voltar a ser Al-Andalus ou o Portus-Gharb, entre os homens de boa vontade que ousarem ser homens livres, em torno do velho, mas não antiquado mar interior!


7
Entre Sufis, Franciscanos e Fraternais há buracos de agulhas onde podem passar camelos facilmente, se traduzirem jihad, cruzadas e iniciação pelo simples verbo que nos dá a conversão interior do morrer para renascer em ascensão...Sem este lugar-comum não há diálogo!


8
E os ortodoxos ainda não marcaram o Nascimento para essa data de pacificação com os adeptos da pluralidade dos divinos que Roma felizmente subverteu...Isso não é fraqueza dos católicos, apostólicos, romanos e protestantes, mas abertura ao mistério. Ainda por bem!


9
Todas as grandes religiões universais só o são porque repetem em grandes ciclos multi-seculares a mesma narrativa. Daí que seja antidivino morrer por um catecismo, uma doutrina ou uma ideologia. Estas passam, as culturas da identidade ficam nas suas diferenças que possam aceder ao mesmo universal. Basta saudar o sol, ou olhar o céu, em procura do mais além!


10
São Paulo, o cidadão romano Saulo, descobriu em Atenas isso mesmo, num templo ao deus desconhecido, às muitas diferenças do divino que permitem a unidade não unicitária....sem a qual Deus apenas se escreve com minúsculas.


11
Alguns dos que procuraram essa unidade chamaram-lhe, no século XVIII, "Grande Arquitecto do Universo". Os nomes interessam menos que a coisa nomeada.