a Sobre o tempo que passa: Contra o estado a que chegámos

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

7.1.11

Contra o estado a que chegámos


1
O bom e velho estado. Excelente a fotografia do DN. Desde as afundações aos pés de barro. Muita banha, pouco nervo e ossos descalcificados. E ainda dizem que há fiscalizadores parlamentares, das contas ou judiciais...

2
São 10 500 entidades das administrações central, local e regional, 1500 empresas públicas, cerca de 350 institutos e 1100 fundações e associações, com que o estadão se disfarça e nos vai sugando...

3
O mostrengo resulta de acrescentarem órgãos para que se cumpram funções, pondo o carro à frente dos bois, marrando uns contra os outros e ninguém vendo os palácios diante das palhas, porque o aguilhão nos cega...

4
Não vale a pena reformar muito do que deve apenas ser extinto. Nem seguir o conselho daquele economista, segundo o qual o problema reside nos funcionários e que apenas devemos esperar que eles morram...

5
Se, segundo um cultor da ilustre ciência, é verdade que a longo prazo estamos todos mortos, seria preferível meter mãos à obra e determinar que, mesmo a curto prazo, podemos pôr o carro a andar em automobilização

6
Basta que o músculo movimente a banha e que o nervo seja superior à pança e que não voltem os fantasmas do velho Estado Novo que já não serve para o que foi criado.

7
Desde logo porque há vários estados dentro do Estado e outros Estados acima do Estado. E que o Estado não são eles, devemos ser nós, os que efectivamente pagam...

8
O mal volta a estar na manipulação do poder de sufrágio onde aqueles que, do monstro recebem, enganam os que continuam a ser impostados...

9
O poder instalado já não resulta apenas da coacção directa dos que estão em cima sobre os que estão em baixo, mas antes da manha com que os persuadem e que está na face invisível da política, misturando ideologia com autoridade.

10
Só voltará a democracia de confiança quando não nos deixarmos enganar quanto à prossecução dos nossos próprios interesses, desconstruindo a farsa que vai tramando o chamado interesse público, o que devia seguir de baixo para cima, em pública horizontalidade.