1
Sem ser coincidência, na véspera de ser publicitado o relatório de um qualquer GAVE, sem ser de alta velocidade, foi-me dado concluir e enviar para o editor uma bem iconoclasta reflexão sobre o nosso situacionismo veiga-simoniano e engagado, fazendo a genealogia dos errados subsolos filosóficos que marcam o educacionês e o anti-educacionês, à espera de tacho de ianques ou de chinocas ...
2
Nem o oito do PISA, nem este oitenta: "os alunos portugueses afinal estão ainda longe de conseguir desempenhar tarefas tão simples como, por exemplo, interpretar um texto poético, solucionar um exercício matemático com mais de duas etapas ou enfrentar um enunciado que não seja simples e curto."
3
Nunca houve tantos e tão bons alunos e professores. O problema está na falta de organização do trabalho nacional. Nunca houve tamanho desperdício de recursos naquilo que é o bem escasso da política pública da educação. A incompetência vem de cima para baixo, numa errada estratégia, com sucessivas fintas de táctica, disfarçando o vazio de escola!
4
Voltemos aos princípios e acharemos o fim. Ao liceu de Aristóteles e à academia de Platão. À família que nos dá pátria, ao templo que nos dá além, mesmo em plural. A ilusão da escola como fábrica e de ministro "big brother" apenas nos terceiromundiza...
5
Por mim, para além de óptimos professores primários e de excelentes professores liceais, devo quem sou a avós que, não sabendo ler nem escrever, me deram o mistério da terra e aos padres capuchinhos que me abriram ao mundo e à realidade da metafísica. A escola apenas acresceu a estas raízes, com pais gerindo a harmonia da cidade...
6
Os nossos estúpidos programas ditos educativos, ao deceparem o chão da pátria e as estrelas do além são tão atarracados que até podiam ser traduzidos e aplicados numa ilha do Pacífico. Ao cederem ao unidimensional do educacionês, perderam a diferença que nos devia dar o universal.
7
Como repetia José Régio em "A Salvação do Mundo", eles, os do educacionês, ainda não compreenderam que a letra mata o espírito. Crescer tem de ser crescer para cima e crescer para dentro. Logo, um indivíduo autónomo apenas tem de aprender a preencher um livro com as folhas em branco, para que seja um homem livre, capaz de decifrar o mistério de viver...
8
Saibamos ir além dos fantoches desta teatrocracia a que a decadência do sistema partidocrático nos condenou. Importa continuar a exercitar um pouco de metafísica e remar contra esta grande corrente de entorpecentes desamores e ódios, neste ambiente depressivo, onde interessam mais os nomes de guerra que as coisas nomeadas.
9
Quem quer ser monge é obrigado a instrumentalizar o próprio hábito e, para ser autêntico, tem que rasgar as vestes que o recobrem, tentando pôr a verdade em forma de palavra. Onde o meio que se usa acaba por ser o próprio fim que assim se disfarça.
10
Pena que alguns apenas queira ouvir os seus preconceitos e fantasmas. Mas palavra doce, em pedra dura, a vai partindo em perfeição.
<< Home