Os bem-educados pela má educação
A nossa expressão bem-educado, mais ou menos equivalente à imperialista noção de civilizado, implica sempre a existência de um outro que colocamos na categoria do bárbaro que vive em selvajaria, de alguém que precisa de ser colonizado, apagando-lhe as respectivas memórias identitárias, através de um processo de lavagem ao cérebro e obrigando-o a constantes exercícios de pavloviano mimetismo.
Aqui e agora os chamados bem-educados foram quase todos mal-educados por gente dita fina de colégios ricos, entre o elitismo congreganista e o elitismo anticongreganista. E continuam a traduzir essa perspectiva imperialista, através do confronto entre os urbanos e os rurais, onde os superiores chamam aos inferiores saloios e parolos.
A dialéctica, contudo, não se reduz ao combate entre a capital e a província, dado que se difundiu por todo o território, outrora dito nacional, através de um confronto mental entre sucessivos centros e as respectivas periferias.
E tudo se agravou depois de 1974, porque o que era violentamente frontal se volveu em hipocrisia, com gente da casta devorista a penetrar em partidos de esquerda, mui revolucionários, a fim de obterem os conseguidos certificados de boa adesão às massas populares, para poderem continuar a garantir o parasitismo, através da política de imagem, apesar dos pés no lodo.
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