A corda, pecador! Levanta-te e anda!
Preparem-se, ilustres comentadores da politiqueirice, para uma mudança de ramo em vosso negócio! Com esta maioria absoluta e com este unanimismo, poucos serão os assuntos palpitantes que poderão atingir aquele mínimo de "share" mobilizador de audiências ou de leitores.
Há que voltar a estar atento aos meandros dos tribunais, não para aborrecerem o cachecol que se enroscou, através de uma cabala involuntária no pescoço do meu amigo Bernardino e que colocou o futuro ministro Alberto Costa numa embaraçosa depressão de imagem, mas antes para notarem os íntimos desenvolvimentos das autarquias douradas e das pias ligações à partidocracia, sem o "glamour" das celebridades do "jet set", entretidas com a "querida menopausa". Aliás, posso assegurar, sem qualquer pinga de ironia, que tanto Bernardino como Costa são o exacto contrário dos viciados em partidarite. São homens que, apesar dos defeitos que todos esses seres têm, estão acima de qualquer suspeita na avaliação do mérito, na isenção e no sentido de justiça. Apenas tiveram azar nesse acaso digno dos "apanhados", num episódio que desfoca totalmente a realidade. Conheço o político pela observação pública e o magistrado como conterrâneo de freguesia e posso assegurar que este último é dotado daquela fibra rural do homem que se faz a si mesmo e que constitui o belo paradigma dos juízes em quem podemos confiar pelo caracter e sentido de justiça.
Mas falemos dos últimos e cinzentos episódios da politiqueirice. Reparemos nas declarações de Maria Roma, a romancista esposa de Freitas do Amaral, que segundo a edição dominical do jornal "Correio da Mannhã", veio revelar o pensamento político da profunda intimidade do administrativista e dramaturgo: “O meu marido continua a acreditar naquilo que disse em 1975, quando, na declaração de princípios do CDS, afirmou que era do centro. Ele não mudou. O País é que mudou muito”. Acresce que tem “ um profundo conhecimento da população portuguesa.” Mais concluiu: “Acredito, no entanto, que algumas pessoas tenham ficado supreendidas por ele fazer parte de um Governo socialista. Mas convém salientar que apesar de alguns anticorpos, estamos num país livre, vivemos em democracia e as pessoas têm direito às suas opiniões. E mais: as opiniões de cada um devem ser respeitadas". Pronto: viremos de página e passemos para as presidenciais.
O mesmo jornal recolhe nova acha para a candidatura presidencial de reserva do PSD e do Opus Dei, João Bosco Mota Amaral, tão devoto nas palavras como no nome: «É uma possibilidade que tem sido falada e que nunca rejeitei liminarmente, mas observei sempre com muita cautela os estudos de opinião fiáveis sobre a questão, que nunca deduzi encarar com especial urgência e responsabilidade». Admitindo ser candidato se tiver condições, disse que isso «obriga a seguir com muita calma a evolução dos acontecimentos e estar na disposição de tomar as decisões adequadas no momento próprio».
Sem invocar os recentes tratados da Universidade de Navarra sobre a problemática jusnaturalista, nomeadamente a magna questão do direito natural variável que, desde Francisco Suárez a Stammler, tem consumido imensas pestanas, o militante e numerário, logo aditou que Cavaco Silva «é o candidato natural do PSD às eleições presidenciais», recordando que tem defendido essa hipótese há vários anos. Isto é, natural não é propriamente o naturalístico dos organicismos biologistas e positivistas que marcaram os maçons na viragem do século XIX para o século XX, mas antes a "natura rerum" dos gregos e dos romanos, onde natureza sempre significou o dever-ser, a procura da contemplação, do mais perfeito, coisas que só os economistas com formação teológica conseguem aceder. Amen.
Já os partidos de direita continuam em bailados de angústia existencial, em instituições que perderam a cabeça e andam à procura do tronco em flor e dos próprios membros, onde metade continua em regime de pé-atrás e outros tantos em bicos-de-pé e até de papagaios. Especialmente estes últimos que, repetindo posturas da neta de Mussolini e do senhor Haider, continuam a inventar conspiratas comunicacionais, disfarçadas em fugas de fontes geralmente bem informadas, nesses processos de crescente esquizofrenia, onde todos vão fingindo que realmente existem.
Por mim, apetece fugir destes antros de pequenez mental e sair do capitaleirismo e do politiqueirismo, rumo a um qualquer exílio num mais além que seja um lugar onde, no qual possar exercer o meu transcendente situado, esse "quid" a que muitos chamam espírito, neste dia em que se comemora o primeiro mês do passamento da irmã Lúcia. Porque apesar de tudo, vale mais ouvirmos a leitura da ressuscitação de Lázaro, pela voz do Padre Feytor Pinto, do que um qualquer "talk show" de um pederasta em regime terrorista de liquidação de crenças.
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