A luta de elites, entre as celebridades e os novos governantes
Leio no semanário "Independente": Governo de gestão fez uma nomeação de duas em duas horas desde que Jorge Sampaio anunciou dissolução do Parlamento. 788 nomeações em 65 dias. Fernando Negrão tomou a dianteira e nomeou 400. Passo os olhos pela crónica de Eduardo Prado Coelho no jornal "Público": A gente acordava, ligava o rádio e lá estava Luís Delgado. A gente comprava o jornal e lá tinha a crónica de Luís Delgado. A gente ouvia um debate ao fim da tarde, e lá tínhamos, incansável e insone, a voz de Luís Delgado. A gente esperava um confronto no noticiário na televisão e Luís Delgado já tinha chegado. Mas para entender o santanismo, importa compreender o que vem no "Correio da Manhã": a grande surpresa desta segunda edição da ‘Quinta das Celebridades’ é Jorge Veríssimo Monteiro, mais conhecido como ‘Capitão Roby’. Na Herdade da Baracha vão ainda entrar Gonçalo da Câmara Pereira, Filipa Gonçalves, Gonzo, Alexandra Fernandes, Rute Marques, Lili Caneças, Miguel Melo, Elsa Raposo e Gonçalo Dinis. Para completar a lista faltam apenas dois nomes, sendo certo que será um homem e uma mulher. Dos potenciais fazendeiros, têm sido falados os nomes do ex-futebolista do Sporting e Benfica, Dani, e do ex-realizador de filmes pornográficos Sá Leão.
Esta magnífica geração direitista que Durão, Santana e Portas mobilizaram é, sem dúvida, a causa da emergência da revolta expressa pela votação no Bloco de Esquerda e o que tem levado às inúmeras sessões de arrependimento protagonizadas pelo presidente da assembleia municipal da Oeiras de Isaltino de Morais, por este nomeado administrador universitário da Fábrica da Pólvora, íntegra figura da cultura e da ciência lusitanas, tão magnificamente apoiado por Baratas e Paulas, que, temendo a emergência de uma pequena elite socialista em Barcarena, se armou de varapau fafense para sanear a torto e meter a direito, usando o cheque. Verificamos, agora, que o dito cujo, especialista em clientelismo, se tornou campeão da luta contra o clientelismo, ao mesmo tempo que promete virar o PSD para a esquerda, certamente com o apoio desse luzeiro da social-democracia que sempre foi a congregação fundada por São José Maria Escrivá.
Perante isto, Sócrates responde com o fim do beija-mão que quase levou Santana Lopes a desmaiar, mas ainda sem dizer se vai usar teleponto no discurso da posse. Manifesta, contudo, a respectiva capacidade de recrutamento da nova elite dos jovens de meia idade do PS, como se comprova pelos nomes dos cerca de quarenta secretários de Estado. Apesar de razoavelmente melhores do que a tralha santanista e portista e de reflectirem alguma incursão louvável da Beira Interior, especialmente albicastrense, revelam o principal drama da política portuguesa: a falta de formação continuada de altos quadros partidário, desde a saída das fundações alemãs que ajudaram à implantação da democracia em Portugal.
Ninguém colhe sem antes semear e chegou à altura de não nos continuarmos a fiar apenas na Virgem, apesar de terem surtido efeito chuvoso algumas procissões devotas. É a hora dos grandes partidos políticos terem a humildade de fazer adequados protocolos com universidades e outros centros de inovação e desenvolvimento, apelando ao mecenato ou fomentando isenções fiscais, a fim de se estabelecer um programa urgente de recuperação da alta formação política fora dos esquemas mentais de Valadares Tavares que, mais uma vez, não ascendeu ao Olimpo ministerial. Podem continuar o "fia-te na Virgem", mas "corram". Choverá mais depressa e o país não arderá tanto.
A actual crise do PS, PSD e CDS deriva da falta de investimento feita na JS, JSD e JC. Se as jotas podem ser magníficas escolas de cidadania, não parece que cheguem as mediáticas universidades de Verão, mesmo quando feitas em plena Outono. Se as jotas se arregimentarem apenas pelos lugares de adjuntos governamentais e autarcas e considerarem que um bom político é o traficante de influências e o gestor das cunhas, teremos apenas caciques, influentes e esses magníficos ex-ministros feitos banqueiros e consultores de patos bravos e de outros fluxos geridos por multinacionais nebulosas. A democracia está em crise e importa um plano nacional, mobilizador de recursos, visando a criação de democratas. Qualquer dia acontecerá a todos os partidos o que já aconteceu ao CDS: serão todos assaltados por "criadores" importados que se usam e deitam fora!
Vale-nos que o povo é mais sábio do que os políticos e até agora tem votado livre da pressão da propaganda e da agressividade cenográfica. Mas a resistência tem limites e vale mais prevenir do que remediar...
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