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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

11.3.05

É preciso ter lata!...



Cumprindo parte da profecia do "Inimigo Público", Paulo Portas condecorou hoje, no seu último acto público como ministro da Defesa, doze cidadãos planetários, revelando o rigor, isenção e sentido patriótico com que exerceu tão alto cargo.

Sete são seus apoiantes partidários: Bagão Félix, Adriano Moreira, Luís Morais Leitão, Manuel Teixeira, João Rebelo, Maria do Rosário Ventura e José Luís Nogueira de Brito.

Dois são do PSD: José Ângelo Correia e Manuel Correia de Jesus.

Outro foi assessor do Primeiro-Ministro do governo PSD/CDS: Nuno Brito.

Fora da coligação, só António Marques Júnior.




O décimo segundo, ou o primeiro, é Frank Carlucci. Consta que a medalha não corresponde à que Carlucci ofereceu a Mário Soares e cuja imagem abrilhanta o "site" da Fundação do ex-Presidente da República. Talvez tenha a ver com petróleo. Ou universidades transatlânticas.

À cerimónia não compareceram Diogo Freitas do Amaral, Maria de Jesus Barroso, o representante da Siemens, a directora das "Women on Waves" ou Mário Soares, alguns com desinteligências recentes com o antigo amigo dos tempos do PREC e actualmente o homem forte da Carlyle, empresa que nada tem a ver com o Partido Republicano americano nem com a família Bush, dado que apenas se conhece o representante da empresa em Portugal, Martins da Cruz. Não parece que, nos próximos dias, Luís Delgado faça uma qualquer reportagem sobre a matéria, nem que elabore um comentário épico sobre a defesa do Ocidente.

Não consta que a Carlyle tenha interesses no negócio de material de guerra, dado tratar-se de uma sociedade filantrópica que se dedica ao estudo das relações internacionais e à elaboração de científicas doutrinas sobre a justiça social, numa perspectiva democrata-cristã. Por esta e por outras é que o Dinis de Almeida, o envelhecido "Fitipaldi dos Chaimites", agora deputado independente da CDU em Cascais, veio à televisão comentar, com plena isenção, o 11 de Março de 1975, proclamando: "estive com a revolução desde o princípio e ainda hoje continuo com ela", acrescentando que, sendo da CDU, não é comunista, até porque comunga com a direita os valores do patriotismo.



Valeu-nos que, logo a seguir, Saldanha Sanches e Maria José Nogueira Pinto, qual Dupont e Dupond, rivalizaram em elogios ao socratismo, onde a pretensa direita passou a ser a esquerda vista ao espelho, para que se vire o disco e toque o mesmo, nesta alternância sem alternativa, onde Carlucci será sempre condecorado. O primeiro, antigo militante de um pequeno partidozinho não foi indelicado para com uma das candidatas de outro grande partidozinho que estava ao seu lado, nem quando esta chamou a Freitas "um independente não gerível", para depois elogiar o novo secretário de Estado da cooperação, matéria que considerou "ser-lhe muito cara" e que o primeiro, muito fiscalmente, logo qualificou como "muito cara".

E fiquei a meditar nas medalhas, na lata, nas condecorações de primeira e de segunda, e nos condecorados, condecoradas, comentadores e comentados. Afinal, eles são quase todos capitaleiros, quase todos nascidos, criados e educados na Lisboa a que chegámos, talvez porque são escolhidos por aqueles fazedores do "agenda setting" que frequentaram os mesmos colégios, os mesmos cafés, as mesmas faculdades, os mesmos salões, nesta alternância sem alternativa.



Não consta que Mário Soares tenha devolvido a Carlucci a bela águia com que este o presenteou. Também não consta que Nogueira de Brito devolva a Cruz Vermelha a Maria Barroso. Seria melhor que todos devolvessem Portugal aos portugueses. Espero que não tenham transferido a Universidade Castrense Nuno Álvares para as bandas de S. Francisco da Califórnia, onde há muitas flores...