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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

6.3.05

Sócrates, os preceptores, os gurus e as vacas sagradas



O ilustre senador Diogo Freitas do Amaral, indo além das suas funções de mordomo para as relações externas para que foi indigitado, já quase se assume como o preceptor de Sócrates, considerando que este "já está a dar provas públicas de serenidade, firmeza e grande discernimento" e salientando que "por trás do político vitorioso está a surgir algo de muito mais importante - um homem de Estado responsável".

Curiosamente, ainda há dias, na apresentação de um livro, o mesmo Freitas justificava ideologicamente a sua viragem para a celestial impunidade, considerando que a democracia-cristã não era de direita e que teria de se aproximar do socialismo humanista. Não sei se por acaso outro presidente do mesmo CDS e também douto professor num mestrado concordatário, subsidiado pela FLAD e pelo "National Endowment for Democracy", numa entrevista concedida hoje à "Renascença", veio repetir a dose unanimista, salientando que a mesma democracia-cristã, aliada ao socialismo humanista, tinha que fazer correcções na "teologia de mercado", depois de quase dizer que se tinha passado para a nova esquerda do "fórum" de Porto Alegre e da chinesa "cidade planetária", contra a nova direita do G7+1.



É pena que o governo de Sócrates queira seguir a recomendação papal que determina que os bispos, aos 75 anos, tenham que pôr o lugar à disposição do Vaticano e que, dos mais conhecidos senadores da república, elevados ao cargo pelo propagandismo da RTP, não tenha podido recorrer a esses gurus. Por exemplo, na pasta da defesa seria interessante utilizar o tal alguém que ainda pertence ao mesmo partido de Paulo Portas e até com ele teve um repasto de apoio no Grémio Literário. Mário Soares bem poderia ir para ministro sem pasta e embaixador itinerante da governação. E o PSD talvez autorizasse Cadilhe a assumir a pasta de vice-primeiro-ministro para a competitividade. Desta feita, o Bloco Central seria elevado ao respectivo clímax.



Também com um pequeno esforço, no sentido da revisão da questão de Souselas, seria patriótica uma solicitação ao professor Boaventura Sousa Santos como vice-primeiro-ministro para o desenvolvimento sustentável, porque assim teríamos um guru vivo, efectivamente reconhecido por todo o espírito de Porto Alegre.

Resta saber como de tantas gurusadas vai ficar um ilustre partido que tem sede na casa que foi do santo padre Cruz, até porque o actual líder decidiu abandonar a vida política mediática e anuncia querer partir para os Estados Unidos em estadia privada, certamente para reforçar a respectiva função de guru e poder alinhar no futuro governo de Sérgio Sousa Pinto, dado que parece ter fechado a antiga empresa de sondagens "Amostra", da Universidade Moderna, onde também chegou a ser destacado gestor Pedro Santana Lopes.




Com efeito, um CDS fundado e, por duas vezes presidido por Diogo Freitas do Amaral, depois de ver confirmado por Adriano Moreira que a democracia cristã alinha com Leonardo Boff e Frei Beto, entrou em regime de meditação transcendental e retiro espiritual, tentando perceber como a democracia apenas serve para a legitimidade do título e não para a do exercício. Porque falhada a ideia de conquista do poder com o apoio da teologia de mercado, resta ao partido procurar um secretário-geral que, procurando a manutenção do poder ao serviço do interesse geral da humanidade, seja capaz de relacionar a segurança com a pobreza e queira reinventar a governança do globalismo, através do recurso às vacas sagradas da anarquia madura. Mas, desde que seja absolutamente contra a entrada da Turquia na União Europeia, porque com aliados destes, que eram excelentes quando o inimigo era comum, venha o Diabo e escolha. E se Temo Correia duvidar, sempre poderemos recorrer a Narana Coissoró, com o apoio de Nobre Guedes.