Eu, usurpador de título científico, me confesso
Um notável divulgador científico, descendente em linha recta do professor António Manuel Baptista, que parece desconhecer que não vale a pena descobrir o que já está descoberto e inventar o que já está inventado, acaba de colocar Portugal na senda dos descobridores de Quinhentos, nesta viragem do milénio. Chama-se Nuno Crato, é professor agregado com agregação na minha universidade e foi elevado, pouco cientificamente, a estrela mediátiva pelo jornal "Expresso".
O mesmo acabou de ditar uma dessas banalidades dos primitivos actuais do cientificismo que se escreviam nas Mecas universitárias na viragem do século XIX para o século XX: a um cientista ou a qualquer amante da ciência custará ver esta palavra tão mal empregue. Não há nenhuma ciência da diplomacia nem nenhuma ciência da política ou do direito. São actividades humanas nobres, que podem ser estudadas com rigor, mas esse estudo, tal como o da história ou o da literatura, não constitui uma ciência. E talvez nunca venha a constituir.
Por outras palavras, mais de século e meio e lançamento das ciências sociais, das ciências do espírito ou das ciências humanas, eis que do Quelhas se descobriu que as mesmas são uma patetice e que não devem preocupar Mariano Gago. Consta que todos os organismos internacionais que estão no "ranking" das melhores do mundo acabam de pedir este notável manifesto da ciência da fotocópia e que todas as universidades que se nobelizaram em físicas, biologia e matemáticas e que têm departamentos de relações internacionais, politologia e direito parecem dispostas a liquidar tais desperdícios e tais atentados contra o verdadeiro conceito de ciência, exclusivo das antigas faculdades de filosofia.
Até as economias e a gestão, que se consideram, às vezes, como rainhas das ciências sociais parecem integrar-se nesta nova hierarquia típica da velha escolástica que tinham como primeiras as ciências arquitectónicas e, como "ancillae", as ciências ditas ocultas, dignas das bruxarias e das astrologias do "tarot". Consta que Galileu se prepara para responder a estes novos candidatos a inquisidores verdadeiramente científicos.
Portugal continua, na verdade, a caminho de ser a vanguarda do quarto-mundo da cultura. Cientistas sociais são usurpadores de título e o crime deve ser imediatamente investigado por polícias licenciados em direito, com protestos de ministros politólogos e internacionalistas. Deste criminoso usurpador de título, doutor em ciências sociais, na especialidade em ciência política, associado, agregado e catedrático por essa patetice por uma universidade pública portuguesa, a do Professor Doutor Nuno Crato, que até se chama Universidade Técnica de Lisboa, que publica a revista "Episteme" e dispõe de uma escolas de ciências sociais e políticas, integrada por esse usurpador chamado Moses Bensabat Amzalak.
José Adelino Maltez, com uma grande gargalhada epistemológica.
PS: Há outras maneiras de atacarmos Marcelo Rebelo de Sousa, pela arte da literatura que matemáticos como o Professor Doutor Nuno Crato, sem irem além da sua chinela, tão bem sabem praticar, sem necessidade de insultarem a dignidade profissional dos colegas...
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