Confissões metapolíticas III
A Europa deve continuar a ser uma Europa sem limites. Deve ultrapassar o modelo da pequena-Europa.
Falta um verdadeiro movimento europeu, marcado pelos militantes daquilo que Milan Kundera qualificou como a nostalgia da Europa. Onde estão afinal os fundamentos espirituais do chamado sonho europeu?
O populista eurocéptico tende a acabar militante profissional, tipo cola-cartazes, segura paus de bandeira, comicioso. Uma espécie de padre que não lê o breviário, mas que bota-discurso apelando aos eternos valore escuteiros. É um excelente escuteiro que nunca ninguém convidaria para ministro e em quem nunca ninguém votará para ministro.
O Estado Laranja usurpou o regime e o regime corre agora o risco de confundir-se com o cavaquismo, como aliás, já havia acontecido nos Açores de Mota Amaral e na Madeira de Alberto João Jardim. A democracia absolutizou-se neste modelo político, onde não interessam as policies nem as pessoas, mas antes as formas de servir o centro do aparelho de poder.
O Portugal cavaquista, depois de ser oportunidade perdia, tende a ser um país dividido entre uma sociologia maioritária de apoio ao governo e uma elite de contrapoder que ora lê o Independente, ora vê a SIC. Os dois meios de comunicação são, aliás, os modelos mais representativos de uma oposição de direitas e de uma oposição de esquerda, estando cada um deles mais adequados ao sentir político dos activistas que o partido popular e o partido socialista.
No caso da direita, a assimetria é mais escandalosa, porque o populismo ou é muito juventude, tipo liceal porreiraço, ou muito dona de casa aposentada, que gosta da fortuna maquiaveliana, do viril garanhão lusitano e jovem que, em sonhos, vai violando a burguesa de sacristia.
No caso do PS, basta recordar que a moderação acabou por rapar-lhe o bigode da indignação esquerdista, com que disfarçava o menino bem comportado da sacristia.
<< Home