Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...
• Bicadas recentes
Estes "breves aforismos conspiradores, sofridos neste exílio interno, lá para os lados de São Julião da Ericeira, de costas para a Corte e com os sonhos postos no Atlântico..." começaram a ser editados em Setembro de 2004, retomando o blogue "Pela Santa Liberdade", nascido em Maio de 2003, por quem sempre se assumiu como "um tradicionalista que detesta os reaccionários", e que "para ser de direita, tem de assumir-se como um radical do centro. Um liberal liberdadeiro deve ser libertacionista para servir a justiça. Tal como um nacionalista que assuma a armilar tem de ser mais universalista do que soberanista". Passam, depois, a assumir-se como "Postais conspiradores, emitidos da praia da Junqueira, no antigo município de Belém, de que foi presidente da câmara Alexandre Herculano, ainda de costas para a Corte e com os sonhos postos no Atlântico, nesta varanda voltada para o Tejo". Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......
Este portal é pago pela minha bolsa privada e visa apenas ajudar os meus aluno. Não tive, nem pedi, qualquer ajuda à subsidiocracia europeia ou estatal
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Ainda sem voltar ao combate diário do blogue, o que implica estar disponível para ver, ouvir e ler em mobilização quotidiana, decidi continuar a publicar pequenas notas que guardava na gaveta. Envio agora partes de um texto inédito de 22 de Novembro de 1993, emitido em conferência quase clandestina num grupo de estudo de gente do PS, o CENOS. Aí reflectia o seguinte:
Um conjunto de pessoas da área do socialismo democrático convidaram-se para comunicar algumas reflexões políticas. Bateram à porta de alguém que é tido como uma pessoa da direita, de alguém que faz parte da mitificada tribo da direita.
A minha genealogia é simples. Licenciei-me em direito entre 1969 e 1974, entre a crise de Coimbra de 1969, a nossa tradução em calão do Maio de 68, e o 25 de Abril de 1974 (nesse dia estava aliás a fazer o exame de Medicina Legal).
Durante todo o meu tempo juvenil nunca pertenci à barricada da esquerda antifascista. Andava pelas zonas de fronteira da direita coimbrã e, dentro desta, numa sensibilidade quem não era nem a dos jovens apoiantes do marcelismo, nem as dos que diziam ser da direita nacional-revolucionária. Sentia-me descendente do complexo monárquico e nas eleições de 1969 assumi-me como um dos apoiantes da chamada Comissão Eleitoral Monárquica que tinha na personalidade de Henrique Barrilaro Ruas, um dos principais ideólogos.
No crepúsculo do regime tinha um pé nos monárquicos oposicionistas e outro na militância lusotropical. Tinha a ilusão romântica de apoiar o spinolismo e vibrei intensamente com o programa contido em "Portugal e o Futuro". Vivi, com entusiasmo, os primeiros minutos do 25 de Abril, mas nem sequer saí para a rua no 1º de Maio.
Talvez seja um desses marginais de direita, tão marginal que até cheguei a votar na esquerda moderada do PS de Guterres, apesar de tudo, isto é, apesar das pessoas da chamada Plataforma de Esquerda.
Confesso que, depois do cavaquismo, fiquei sem saber onde estou.
Herdeiro da tradição monárquica, não posso contudo invocar essa fidelidade pelo nominalismo anti-republicano de alguns figurões do "jet-set", que esquecem a circunstância da monarquia anti-absolutista da profunda tradição portuguesa sempre se ter assumido como a melhor formas republicanas de governo.
Marcado intelectualmente pela perspectiva democrata-cristã dos séculos XIX e XX, não posso deixar de seguir as linhas de pensamento de um Jacques Maritain ou de um Emmanuel Mounier e, sobretudo, a grande perspectiva do federalismo europeísta a que me associo.
Não me assumo, contudo, como membro da Igreja Católica, dado defender aquela perspectiva laica de fundo estóico, esse profundo humanismo ocidental…
Profundamente anti-moderno, não deixo contudo de me seduzir por algumas linhas do conservadorismo neoliberal.
Por todas estas razões eis que me aproximo do libertacionismo existencial de alguns autores do misticismo político do nosso tempo, de Agostinho da Silva a Soljenitsine.
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