No apetecer de um tempo descoberto
Sempre a espera que antecede o momento da procura, um rio, o vento, o barco que passa, o sítio mais estreito que nos dá passagem. Uma barca que nos leve além, assim mais perto do mais sonho que se guarda em mim.
No apetecer de um tempo descoberto, na sagrada procura de um sinal que me dê sonho, na espera sentida de um tempo que me dê alento.
Sou quem sonho, as mãos sustenho sem palavras que descrevam o momento. O breve sinal que me deu alma. E as mãos contenho, devagar.
Quanto apetecia que estas palavras possam despertar quem sou, que, mesmo depois de morto, nestas palavras eu possa, através de alguém que isto mesmo sinta, me eternizar. Que, com alguém, sentindo o meu sentir de agora, possa voltar, um dia, a eternidade que, humanamente senti, na brevidade desta vida.
É a noite que vai seguindo seus passos, nesses longos caminhos que apetece peregrinar, nestas viagens de me olhar por dentro, de me olhar para dentro. É o tempo. O muito tempo que me apetece, para que o tempo não finde e seus sinais me dêem a longa esperança da viagem.
Como dói saber que o tempo me consome e que, cada vez é mais estreita a linha que nos separa do fim. Quando, aqui e agora, me escrevo, não pelo prazer da escrita diletante. É escrever-me porque não posso viver como me apetece e porque tenho de viver.
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