a Sobre o tempo que passa: Poder voltar a ser viagem

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

4.9.05

Poder voltar a ser viagem



Olhar dentro de mim e largando a âncora, poder voltar a ser viagem, cumprindo a rota de um sonho por cumprir. Há dias em que apetecia sair daqui, largar meu corpo e singrar mar dentro, as mãos dentro de mim, as mão por dentro, revolvendo sinais de uma procura onde me perco, que há sinais de um novo dia que me possa dar a fantasia.



Em todos os portos que foram e são partida, há sempre desses montes que nos dão memória do lar, há sempre desses sinais de terra-mãe, aqueles de quem nos despedimos em dor, prometendo ter que voltar. Porque ser português antigo, português de sempre, é lançar semente no mais além, sempre à procura de um lugar onde, nessa nostalgia activa de saber que só há lugar no regressar ao sítio de quem sempre fomos.



Somos quem sempre fomos e postos na procura do dever-ser que há cá dentro, nesse sonho que sempre foi a raiz do mais além. E pelo abrasamento nos ficamos, em movimento, temendo olhar o sol de frente, temendo percorrer os longos vales da procura, num tempo que há-de ser.



Sonho e sofro o reviver, os passos de um novo tempo que, por dentro, já é ser. O tempo de um templo por cumprir que me volva de viagem. O semear na terra prometida o que tem que ser um lugar onde. Apetece fugir para me encontrar.