a Sobre o tempo que passa: No longo cais de pedra...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

3.9.05

No longo cais de pedra...


Imagem picada em Cristina Garcia

E ficarão, para sempre, as pequenas vagas batendo mornas no longo cais de pedra, ficará eterno o prometido barco que nos há-de levar para o outro lado do mar, ficará, para sempre, o infinito.

Mas a procura que se vai fazendo desse além de nós, dentro de nós, continua a doer na brevidade das vidas que vão seguindo.

Porque a razão das coisas contabilizadas nos dita desassossego. E vivendo quem somos, pelo sonho, revivemos.

E até fingimos esquecer esse afã de não haver sol sob os umbrais, nem noites de magia.

Porque doem vidas cheias de âncoras procuradas que não nos deixam chegar aos sítios com lugar.