a Sobre o tempo que passa: Tartarugas, RGAs, presidentes e presidenciais, nesta aliança do sistema com o esquema

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

15.11.05

Tartarugas, RGAs, presidentes e presidenciais, nesta aliança do sistema com o esquema




Não, não vou falar da longa marcha contra as sondagens em que se transformou esta pré-campanha das presidenciais, agora que os principais adversários de Cavaco começam a perceber que as eleições não se vencem apenas no território de um certo conceito de povo de esquerda, segundo a definição que dele dão Francisco Louçã ou os organizadores dos "frente-a-frente" da televisão Balsemão. Porque, para desfazer o mito, bastaria recordar as invocações ideológicas do mesmo Cavaco, enquanto jovem líder do PSD, quando se dizia da esquerda moderna e inspirado no mesmo revisionista marxista, Bernstein, que também foi considerado mestre por José Sócrates.

Também não quero comentar o "remake" da conversa em família que ontem nos foi propiciada por Cosntança Cunha e Sá na TVI, nem os discursos feitos pelos outros candidatos em palanques hoteleiros ou expedições às feiras de coiratos do país dito profundo. Também não exijo que todos os candidatos, dos mais velhos aos menos velhos, mostrem o respectivo boletim médico, antes de se sentarem no "cadeirão" de Belém, nessa subliminar bem manhosa de Soares que qualquer jornalista bem informado conseque descodificar, mas não pode esmiuçar, anunciando-se assim um inevitável lavar da roupa suja. Prefiro saudar os bons resultados de Vanessa Fernandes lá do outro lado do mundo, onde também fez 175 anos uma tartaruga que veio para a Austrália, sem passar pelas Seychelles em Novembro de 1995.





Hoje vou glosar o presidente Sampaio que, quanto mais se aproxima da "deadline" do respectivo mandato, mais incendiário se torna, em nostalgia discursiva de RGA para televisão mostrar, antes de aconselhar os estudantes de hoje a não serem como ele foi quando era cenourinha, ou quando anunciava a sua candidatura a Belém, na cidade universitária de Lisboa. Com efeito, também eu seria novamente acusado de radical e libertário se aqui dissesse, como ele, que o sistema universitário estava desregulado e sem racionalidade.




Apenas acrescento que o sistema de ensino superior entrou numa espiral implosiva, porque vai rodopiando em torno de eixos endogâmicos que o levaram a uma autoclausura reprodutiva de fantasmas. Espero que desta feita não surjam os habituais ventríloquos inquisitoriais que, em voz baixa, fazem as habituais denunciações de ouvida e fotocópia deste blogue para levram aos grão-mestres que o controlam e não admitem os desobedientes que se recusam a participar nas procissões da engraxadoria salazarenta.

Os donos do poder universitário transformaram-se em autarcas de quintarolas que se mostram incapazes de lancetamento dos nódulos de micro-autoritarismo neocorporativo que se mantêm como controladores de carreiras, subsídios, viagens e jantaradas, a quem os oportunistas pedem prefácios de palavras pseudo-reformistas, gastas pelo uso e prostituídas pelo abuso.



A universidade caminha para a implosão por causa desta aliança do sistema com o esquema, sendo imune à necessária abertura para cima, às ideias, e para baixo, à sociedade. Porque o sistema assenta num esquema dito de gestão democrática, mas que não permite a eleição pelos pares e pelos que pensam de forma racional e justa, dado que se mistura o decretino hierarquista da ameaça com a clique da pequena classe política de um associativismo oligárquico que manobra os bastidores dos grandes eleitores e das assembleias ditas representativas, transformadas em meras subsecções da permanecente sociedade de corte, pintada com "slogans" de RGA vanguardista.

É por isso que há vivendas que se transformam em faculdades da noite para o dia, sem comunidades académicas vivas que as sustentem, dado que em vez de professores, alunos e funcionários em interacção, criámos uma casta de reformadores académicos encartados, avaliólogos e educacionólogos, só porque décadas antes deram umas aulas e, depois, se tornaram eméritos, reformados e aposentados em regime de quase psicopatia sentenciadora, com muitos compadres e comadres.