Quanto mais ao povo a alma falta, mais a minha alma atlântica se exalta
Nas vésperas de partir para a Universidade de Brasília, onde terei a honra de participar num júri de doutoramento (uma "banca"), a que se vai sujeitar uma jovem professora lusitana, minha antiga aluna de licenciatura, talvez a primeira portuguesa a praticar ao vivo este tipo de cooperação activa entre universidadades lusófonas, sonho como poderíamos ter saudades de futuro se largássemos o ritmo dos discursos da diplomacia do croquete e das viagens de turismo universitário, passando a cumprir o legado de Agostinho da Silva.
Amanhã, quando estiver em pleno planalto, longe das polémicas dos presidenciáveis, quando aí voltar a sentir a braveza do português antigo, bandeirante do sonho, retomarei aquele profundo direito á indignação e à revolta, contra os que, provincianamente, transformaram o Velho do Restelo numa estreita lógica de mercearia financeira, candidatando-se a meros bons alunos de imperialismos estranhos à nossa índole, tal como Cristóvão de Moura e Miguel de Vasconcelos.
Como sempre, levo comigo os textos de Gilberto Freyre, agora actualizados pelo meu amigo Vamireh Chacon, em "A Grande Ibéria", recentemente publicado. Apenas repetirei Fernando Pessoa: quanto mais ao povo a alma falta, mais minha alma atlântica se exalta. E às vezes apetece compreender como ser português universal é o mesmo do que ser brasileiro, esse português à solta, como lhe chamava Manuel Bandeira.
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