a Sobre o tempo que passa: Acorda, Manuelinho! Viva Febo Moniz e el-rei D. António

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

5.12.05

Acorda, Manuelinho! Viva Febo Moniz e el-rei D. António



Dizia, no meu último postal, que houve um silenciamento da maior parte dos fazedores de opinião sobre o 1º de Dezembro. Justiça seja feita ao meu antigo professor, Vital Moreira, que, ousando repor a verdade e a justiça da história, considera que nas paredes da grandiosa "sala dos capelos" da Universidade de Coimbra estão patentes os retratos de todos os reis de Portugal. Todos, não! Falam os Filipes (o lapsus calami é mera coincidência, porque a intenção do autor não foi falar pelos Filipes, mas antes dizer faltam os Filipes).



Esperamos ansiosos pelo repto lançado ao reitor da Universidade de Coimbra. Propomos também que nessa eventual cerimónia, para que, certamente, deve ser convidado o rei de Espanha, seja lido o poema de Manuel Alegre, "Carta ao Manuelinho de Évora", bem como revogada a decisão pombalina de banimento dos juristas da Restauração, os quais explicariam o sic rebus, sic stantibus, segundo os mais vigorosos princípios do direito público, então vigentes. Não duvido do patriotismo do meu antigo professor, mas estranho que tenha assim abandonado as teorias da legalidade revolucionária, aplicável tanto às autodeterminações nacionais como ao internacionalismo, talvez por desconhecer o trabalho de Mário Soares sobre a matéria e que, por nós, continuamos a subscrever.



Por mim, prefiro que desperte o Manuelinho de Évora, contra os ministros do reino por vontade estranha. E que se entenda o Portugal Restaurado de 1640 como um momento de reinvenção nacional, respeitando os que deram a vida durante vinte e oito anos em nome do sonho de um Portugal moderno que se conseguiu impor no contexto da Europa de Vestefália e legando ao mundo o Brasil, como me ensinava Agostinho da Silva. Não votaria a favor de Filipe nas Cortes de Tomar e não seguiria os conselhos de Frei Bartolomeu dos Mártires e de Frei Luís de Sousa. Preferiria sempre morrer tentando, como D. António Prior do Crato. Sou do partido de Febo Moniz e do Padre António Vieira. As hostes de Mateus Álvares não se renderam em São Julião da Ericeira. Vamos voltar a eleger D. Sebastião!