a Sobre o tempo que passa: Viradeira, assassinatos políticos, personalizações do poder e balança da Europa, com classe alta à mistura

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

24.2.06

Viradeira, assassinatos políticos, personalizações do poder e balança da Europa, com classe alta à mistura



Hoje, no ano de 1777, morria D. José e começava aquilo que nos está na massa do sangue político e social, a viradeira, esse ensaio de salazarismo que o regime joanino tentou superar, não fosse Napoleão e D. Carlota e o lastro de absolutismo importado e de beatério reaccionário. Daí que tenhamos de recordar o assassinato político do marquês de Loulé em Salvaterra, no ano de 1824, coisas que cumuladas levaram a que no ano de 1842 se tenha iniciado o cabralismo a cem por cento, porque foi neste dia que António Bernardo da Costa Cabral foi nomeado ministro do reino. E de nada nos valeu que no ano de 1912 António José de Almeida tivesse fundado o Partido Republicano Evolucionista, onde até militava o ex-anarquista e futuro pregador salazarento Alfredo Pimenta, e que, na mesma data, quatro anos depois, se tenha dado a apreensão de um primeiro navio alemão surto no Tejo.



Portugal sempre sofreu os balanços da balança da Europa e da balança do mundo, a não ser quando entendeu o mundo como armilar e tratou de ver mais alto, sem recorrer às lentes de contacto das pretensas classes altas dos estoris e das fozes do douro, com os distintos intelectuários que as mesmas vão mobilizando para a respectiva sociedade de corte, onde já não há trono nem altar, mas tacho banco-burocrático, com alguns traseiros judiciais expostos em pouco sossego e esperança num convite para a próxima tomada de posse do futuro inquilino do palácio de Belém.



Como professor e, logo, membro do antigo clero não eclesiástico, reparo como as boas coisas desta sociedade de ordens, que eram as práticas do princípio da igualdade de oportunidades entre o clero universitário e eclesiástico e a nobreza funcional dos militares, acabam por ser subvertidas pelo regresso dos filhos de algo, dos herdados e dos prendados, neste declive decadentista que tende para a inevitável e horrorosa revolta do povo contra os ricos, naquilo que sempre foram as revoluções, quando estas não conseguem ser domadas por uma qualquer personalização do poder e a inevitável esperança numa constipação mal tratada ou na queda do ditador em qualquer cadeira. Se os estados gerais não funcionarem a bastilha é inevitável.