a Sobre o tempo que passa: GIS, televisão a cores, Corte no Rio de Janeiro e paternais conselhos dos instalados

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

7.3.06

GIS, televisão a cores, Corte no Rio de Janeiro e paternais conselhos dos instalados

Ontem não disse nada sobre a fundação do PCP, porque já o tinha dito, e se o dissesse o Pedro Namora continuaria a tratar por fascitóide o meu epidérmico antitotalitarismo. E também teria que assinalar o nascimento de Afonso Costa em 1871, sobre quem também já disse tudo, porque continuo antijacobino primário e sempre preferi o António José de Almeida. Infelizmente, seria pouco curial que, também ontem, no dia da morte de Maria Helena Vieira da Silva (1992), eu tivesse que comentar a publicação do retrato do quase ex-presidente Sampaio por Paula Rego.

Porque nesta semana de todas as efemérides sampaístas, temos de recordar que hoje, em 1976, era criado o GIS, dominado por ex-militantes do MES, liderados por Jorge Sampaio, precisamente. Assim se aburguesava a ex-esquerda revolucionária que, analisando com frieza as circunstâncias, sempre considerou que não existiam condições objectivas para se fazer a revolução, preferindo ser assessora dos grandes capitalistas cá do burgo ou advogada de negócios, até se assumir como a decana das bonzices nos dias que correm, esquecida das vítimas da fome e dos amanhãs que cantam. Afinal, neste dia, no ano de 1980, a RTP, ainda em monopólio, iniciava a televisão a cores neste país que continua a preto e branco, com muitos tons de cinzento, saudoso que está da viagem da corte do Príncipe Regente e da Rainha Louca que chegou ao Rio de Janeiro precisamente neste dia de 1808.

É por estas e por outras que ainda ontem fui interpelado por uma alta figura da nossa praça jurídico-política, com quem me cruzei numa dessas do social a que não posso escapar, e a quem, neste blogue, já apontei umas frechas, o qual, rapando de sua agenda, muito paternalmente me convidou para jantar, a fim de tentar aconselhar-me à dita moderação que lhe deu milhões no negocismo e a mim me dá "mau ambiente". E bem me lembro, quando éramos jovens não instalados, quem o moderava na sua exaltação. E fazia-o exactamente com as mesmas ideias que expresso hoje, as tais que, face a novas circunstâncias, já são por ele consideradas como radicais. Apenas lhe disse que era funcionário público e que a própria república me pagava para eu ser contrapoder. Além de que nunca andei por aí na caça do subsídio ou da barganha do sindicato das citações mútuas que dá a alguns a ilusão da tal fama que foge. A essência do homem ocidental é ser do contra, como Unamuno nos ensinou. Mesmo quando os pretensos contras passam a presidentes, ministros, advogados ou deputados.