À sombra do pinheiro de mestre Agostinho
E cá estou nesta capital federal, cidade de Agostinho da Silva, neste sertão de terra vermelha e mangueiras, nesta cidade sonhadas por Juscelino e arquitectada por um povo que a fez cruz e asa de avião. E lá trago as minhas agendas de procura, estes "carnets de politologue", onde tento deter o "mouvant" com um pouco de "pensée". Preciso destas saídas transatlânticas, a caminho do Sul para me sentir mais morenamente lusíada, procurando respostas para estes novos sinais do tempo.
Sou, infelizmente, daqueles que não sabem o que querem nem para onde vão, porque julgo que vale mais a autenticidade da procura, mesmo quando não se acha. Não sou dos que lamentam já não haver doutrinas que tenham força, nessas linhas que davam racionalidade ao pretenso processo histórico que não tinha previsto o fim da URSS e uma globalização com neoliberais e fundamentalistas islâmicos. Chamar caos ao que tem sido o presente baralhar do construtivismo de certas concepções do mundo e da vida talvez seja uma caricatura.
Aqui estou neste Brasil de campanha presidencial, ainda sem lhe sentir a alma. Porque o Brasil continua bem longe dos nossos namoros retóricos, como certamente foi notado por Sócrates na sua última visita de Estado. Porque não é apenas com diplomacia e adidos culturais que daremos vida aos eternos Estados Unidos da Saudade.
Daqui a bocado, lá terei uma turma deste curso de doutorado e sinto que vou cumprir uma missão que ultrapassa a minha privacidade. Sinto que carrego a responsabilidade de também poder cumprir o legado que me deixou mestre Agostinho da Silva no tempo dos pioneiros de Brasília, quando, começando a ensinar num barracão, decidiu semear nesta cidade do Novo Mundo um pinheiro português...
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