O neofeudalismo desta anarquia ordenada por correias e governadores civis
Não há dúvida que uma organização passa a mera anarquia ordenada quando no auge das suas potencialidades (presidência da cimeira UE/Brasil) deixa abrir as feridas de vulnerabilidades do tamanho das questiúnculas à moda de Vieira do Minho.
Daí que um deputado PS tenha ontem proclamado que "ganhámos as eleições para nomear pessoas", no mesmo dia em que uma correia secretária do senhor ministro gonçalvista nos deu uma lição de teoria da democracia própria da velha senhora, segundo a qual o supremo critério da lealdade apenas permite dizer mal do governo no recato do lar, ou então, nas conversas de esquinas e cafés, mas com cuidadinho e mesura.
Logo, também não sei se, aqui, na blogosfera, possa dizer que, apesar de tudo, prefiro Balsemão a Santos Silva. Porque aquele, quando era ministro ou chefe de governo, teve no seu "Expresso" o exacto contrário dos actuais órgãos de informação bem comportados.
Agora, neste PS à moda do Mau Minho, voltaram os governadores civis de Costa Cabral, para identificar manifestantes que pisaram o risco do fora das regras.
Aqui, democracia é respeitinho nos serviços, na rua ou até nos blogues, onde ser jocoso, segundo a cartilha ministerial gonçalvista, implica demisssão e dizer verdades pode significar queixas por difamação.
Seria melhor que o poder estabelecido compreendesse que está a perder, uma a uma, todas as cordas que o ligavam à confiança pública, com o estado de graça a passar para a zona das estátuas com pés pantanosos, feitos de muitos tabus.
Por outras palavras, o sistema socrateiro está a meter as mãos pelos pés, pondo os membros inferiores onde deveria estar a racional cabecinha, só porque meio mundo se põe em bicos de pés, isto é, de "jobs for the boys", e outros tantos, do outro mundo, resistem no pé-atrás.
O pior é que todos usam aquela máxima da falta de autenticidade, quando dizem que estão de consciência tranquila e que não recebem lições de democracia de nenhum oposicionista. Apenas recordo que Adolfo também subiu ao poder pela forma da democracia. Apenas assinalo que ser democrata, segundo a lição de Popper, não é saber como se determina quantitativamente quem manda, mas antes como se controla o poder dos que mandam.
Seria melhor que, em vez de estórias das traduções em calão do Maio 68, lessem um pedacinho de Montesquieu e Tocqueville. Porque todo aquele que detém o poder, mesmo o carimbado pela esquerda, tende a abusar do poder. E a própria virtude precisa de limites, nesta sociedade imperfeita. A fronteira entre a democracia e o regime doméstico e antipolítico do despotismo é muito estreita...
Etiquetas: abuso do poder, anarquia ordenada, controlo do poder, despotismo, estado de graça, gonçalvismo, montesquieu, neofeudalismo
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