a Sobre o tempo que passa: Europa, Kosovo, Obilic e o confronto das águias

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

15.12.07

Europa, Kosovo, Obilic e o confronto das águias


Sábado, chegou a pausa necessária de uma intensa semana, entre um ciclo de conferências sobre Carl Schmitt e a assinatura do Tratado Reformador, com intervenções em directo na RTPN e na SIC Notícias sobre a conjuntura. Ontem foi o último conselho presidido pelos representantes da República Portuguesa, hoje, as primeiras páginas dos semanários políticos pressionando estes últimos para não caírem na tentação referendária. Num, declarações insultuosas de um conselheiro de Sarkosy, qualificando Sócrates como traidor se ceder aos conselhos da JS. Noutro, o anúncio do não ao referendo, depois da quebra de mais um "tabu" da cavaquista gestão dos silêncios. Isto é, tudo aponta para que o povo português não possa beneficiar daquela conquista do tratado reformador chamada democracia participativa.


Aliás, o sistema da eurocracia já começou a procriar mais um comité partidocrático, dito comité de sábios que, lá do alto da barganha entre o PSE e o PPE, vai fazer mais um retiro espiritual de políticos desempregados que, de forma iluminista, assumem a missão de substituir a voz directa dos povos. A personalidade escolhida para nos lavar a cabecinha é o socialista espanhol Felipe González.

Espero que Cavaco não replique com a emergência de uma espécie de Conselho de Senadores, com os habituais Soares, Freitas e Adriano, nessa união nacional de federação da história dos regimes, unificando as comissões de honra das principais candidaturas presidenciais, através de uma nova Câmara dos Pares, vitalícios e quase hereditários pela fidalguia, que assim substituam a democracia. Aliás, até seria interessante que o parlamento largasse o legalíssimo direito de ratificação no próprio Conselho de Estado, onde domina o oligopólio do PPE e do PSE.






Por isso, prefiro assinalar que o nacionalismo sérvio está contra o nacionalismo albanês e que os albaneses do Kosovo fazem desfilar bandeiras norte-americanas em favor de mais uma independência que caiu nas teias dos choques imperialistas, neste caso, do imperialismo russo contra o da superpotência que resta. Eu preferiria que a Europa da União Europeia moderasse tais imperialismos e tais etno-nacionalismos.


Porque os imperialismos sempre instrumentalizaram independentismos separatistas, para dividirem os imperialismos rivais e depois subjugarem os retalhos conseguidos. Lembro-me de Washington contra a Espanha, com as independências de Cuba e das Filipinas, la ma última década do século XIX. Recordo o que fez Moscovo contra os otomanos na independência grega.

Agora, a minha Europa não deveria esquecer que o presente nacionalismo de Belgrado não é o de Milosevic, mas dos resistentes demoliberais que o afastaram do e que estão a construir o Estado de Direito e o pluralismo democrático na Sérvia. E também não deveria agravar o confronto entre europeus islâmicos e europeus da cristandade ortodoxa, ao estilo do que aconteceu na Guerra da Crimeia.


Devemos recordar que os albaneses, apesar de islâmicos, são dos mais antigos povos da Europa. E que os sérvios foram os primeiros que se independentizaram dos otomanos pelos seus próprios meios. Seria bom ouvirmos os conselhos de Atenas, Sofia e Bucareste e atendermos à prudência de Madrid e Londres. Porque uma independência não tem sentido se a identidade que a sustenta tem a ver com os interesses expansionistas de um vizinho. O que seria se os bascos franceses proclamassem a independência de um novo País Basco, no caso do vizinho se ter desintegrado do Estado Espanhol? Ou de coisa semelhante acontecer com a Irlanda do Norte?