a Sobre o tempo que passa: A fluidez dos cachimbos de água feitos de carismático e de patrimonialismo

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

7.1.08

A fluidez dos cachimbos de água feitos de carismático e de patrimonialismo


Lá entramos em 2008, ainda ofuscados pelo magnicídio paquistanês e com a disputa da nova liderança do BCP, entre a tragédia da morte e a mesquinhez dos contos e das contra-ordenações que as entidades ditas reguladoras não detectaram, naquilo que o senhor ministro das finanças fez equivaler à guerra dos polícias contra os ladrões. E assim se passa um tempo de terrorismo fundamentalista, de um lado, e de desleixo dos chamados colarinhos brancos, sempre em compra de poder, do outro.


Uns, invocando a legitimidade carismática do profeta. Outros, a legitimidade patrimonialista do sultão. Os dois, em vazio de legitimidade racional-normativa, a tal que deveria ser o fundamento e o limite da democracia e do Estado de Direito.


E entre o normal anormal das manobras de "off shore" da banca em que nos assentámos e os vapores da fluidez dos cachimbos de água de algumas margens da partidocracia, só o acaso parece provocar os anormais das parangonas e dos processos, que talvez não passem da ponta visível desse "iceberg" de normalidade. Porque nesta quinta de animais falantes, se somos todos iguais, há alguns mais iguais do que todos os outros.


A questão está menos nos ilícitos eventualmente cometidos e, por enquanto, apenas detectados, e mais no ambiente donde emergiram, onde a barganha e a "pantouflage" os remetem para a simples categroria de acasos que nunca deveriam ter tido hiipótese da presente transparência.


Julgo que nenhum dos indícios aponta para o universo da mera vigarice, podendo ser mero reflexo de um paradigma de conduta marcado por certo dolo eventual que apenas deveria, segundo o esoterismo em vigor, ser do conhecimento dos que têm contactos imediatos de último grau com o estratosférico da engenharia financeira.


Infelizmente, como o sigilo é a arma do negócio, tudo poderá continuar no cofre forte das distintas famílias de detentores daquela "inside information", onde os berardos não passam de excepções que confirmam a regra...