Ousando chegar a Deus só a pensar
certas algemas da vida,
pois lera, nos livros sagrados,
os sinais da salvação,
não consigo, agora, dobrar
os ferros da solidão.
analítico, ousei singrar
nessa ilusão bem humana
de chegar a Deus só a pensar.
E, rendilhando paradigmas,
no pensar do pensamento,
por tanto ousar duvidar,
já não sei rezar sem racionalizar.
e como tal reconhecido,
pelo papel selado
das certidões oficiais,
nem sequer posso voltar
às nostálgicas certezas
do colo de minha mãe.
eis-me, agora, professor,
neste meu ter de ensinar,
entre as coisas que aprendi,
tantas coisas que não sei.
Nosce te ipsum!...
Cogito, ergo sum!...
na própria cátedra já assentado,
confesso ter lido, e relido,
montanhas de papel inanimado,
bibliotecas inteiras
de pensamento pensado.
E, de tanto recolectar
fragmentos, fichas e rodapés,
que, muito hierarquicamente,
fui classificando,
como engenheiro de conceitos,
nas teias sistémicas
de uma qualquer teoria,
foi do próprio espaço vivido
que acabei por me esquecer.
Essa máxima universal
de todos sermos iguais,
de todos podermos ter,
pela simplicidade dos sinais,
um conhecimento modesto
sobre as coisas mais supremas.
fora de mim,
o que, por dentro,
guardava,
fiquei, assim,
encruzilhado.
aprendi, pelo menos, a duvidar
das próprias regras do método,
daquele pretenso rigor,
muito axiomaticamente dedutivo,
que, por lei, dizem que sei.
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