a Sobre o tempo que passa: Revisitando o sonho dos jovens turcos, longe das procissões do Liechenstein

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

4.2.08

Revisitando o sonho dos jovens turcos, longe das procissões do Liechenstein


Tadic vence na Sérvia e, na Turquia, os ocidentalistas resistem, enquanto por cá tememos os Bai-tu-lá. Também o Sporting perdeu no Restelo e o Benfica empatou no que foi Luz, com lenços brancos para Camacho. Porque já ninguém discute a remodelação que levou ao poder mais um grão de areia da ala câncio do socratismo. Coisa que é directamente proporcional às manifestações misseiras neomonárquicas, parecidas com as nostalgias do principado do Mónaco ou os filmes a preto e branco de uma passagem de modelos na capital do Liechenstein. Todos continuam a confundir o povo com a criadagem e a caridadezinha, à boa maneira da secção gente fina do Clube de Fãs dos Gato Fedorento, que se diverte em jantaradas da classe A e B-alta da linha do Estoril.


A esquerda caviar e a direita neomonárquica adoram os que conseguiram sucesso negocista nos meandros da banca e do bolsismo, aqui e além enquadrados pela velha ortodoxia dos estalinistas e dos congreganistas, onde as obras e os retiros espirituais moderaram os vapores dos exaltados republicanos, ou dos extremistas revolucionários. Entre esta esquerda triunfante e esta direita ortodoxamente vaticana, há sempre ex-ministros de Estado, sejam de Salazar ou de Santana, ilustres advogados de negócios internacionais, ou comemorativos reitores e fardados académicos, para que se gaste tinta de caneta romba, entre pretensos cronistas-mores do congreganismo anti-reaccionário e do reaccionarismo anti-congreganista.


Fica sempre sem direito à moderação a larga planura dos cidadãos de bom senso, os tais que se sentem indiferentes perante as encenações do ódio e da teoria da conspiração, porque a realidade são ministros assinando trezentos despachos na véspera da saída do gabinete e outros tantos carregando toneladas de fotocópias submarinas. É por isso que, por estes dias, quase todos foram escrevinhadores feitos à imagem e semelhança dos sucessivos anais da revolução nacional, em espectáculos revisionistas. Porque as facções continuaram o tiroteio da guerrilha civil fria que nos continua a enregelar. Quase todos amealharão reais expectativas de melhor sustento nesta engenharia de cunhas, entre corretores e agências de viagens, com untado acesso e água benta nos restos das aposentadorias do sistema Metternich. Por isso, prefiro revisitar e apoiar o sonho dos jovens turcos...